"Eu diria que hoje a possibilidade é muito mais forte de ser candidato a Presidente da República. É uma possibilidade forte, estou a trabalhar para transformar essa possibilidade em certeza e hoje essa possibilidade é muito mais forte do que era antes", afirmou José Maria Neves, admitindo, ainda assim, que está em processo de "reflexão".
Em entrevista à agência Lusa, na cidade da Praia, o ex-primeiro-ministro (2001-2016) e ex-líder do Partido Africano da independência de Cabo Verde (PAICV), recordou que uma candidatura presidencial em Cabo Verde, "hoje mais do que nunca, é muito exigente", face aos "desafios atuais", nacionais e internacionais, mas admite que os cabo-verdianos precisam de "um líder da Nação".
"Uma candidatura presidencial tem de ser suprapartidária, então vai exigir um trabalho mais alargado, mais amplo. Mas estou nesta fase a trabalhar para transformar essa possibilidade numa certeza", reforçou José Maria Neves, 59 anos, atualmente professor universitário.
Defendeu que o país "precisa de um árbitro, capaz de unir os cabo-verdianos" e de "romper" com a "forte crispação política" atual.
"Que possa trabalhar para reforçar a confiança mútua entre os diferentes partidos políticos cabo-verdianos e que possa ser efetivamente, pela sua influência, pelo seu poder de mensagem, um moderador de todo o sistema político cabo-verdiano. Capaz de conciliar, de advertir quando for necessário, mas sobretudo capaz de integrar, de unir, de estabelecer pontes, compromissos e de mobilizar a Nação para enfrentar com sucesso os desafios", afirmou.
Características de consenso que diz possuir: "Sim, veja que eu fui durante 15 anos jogador [primeiro-ministro] e enquanto jogador isso permitiu-me adquirir experiências, ter contactos com árbitros, com treinadores, etc. E hoje permite-me ter uma experiência com tudo o que consegui enquanto jogador no campo político, e um pouco treinador também, enquanto líder de um partido e da maioria, isso vai permitir-me ser com certeza um bom árbitro", vaticinou.
A dois anos das eleições, José Maria Neves, um dos históricos do PAICV, hoje o maior partido da oposição, afirma que para já pretende "continuar a analisar a evolução da situação política" do país e o "comportamento dos diferentes partidos políticos".
Questionado pela Lusa, José Maria Neves assume que para esta candidatura será "essencial" ter o apoio do PAICV, mas também de outros partidos.
"Acho que tendo sido dirigente do PAICV, tendo sido também por quase 40 anos militante do PAICV, acho que seria quase que natural esse apoio, mas isso vai depender dos órgãos do partido. Mas eu gostaria que, se me candidatasse, que essa candidatura fosse suprapartidária", insistiu.
Cabo Verde deverá realizar eleições presidenciais na segunda metade de 2021, às quais já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo mandato como Presidente da República.
José Maria Neves, que é presidente da fundação com o mesmo nome, que criou em 2017, na cidade da Praia, afirma que Cabo Verde tem hoje uma "grande ânsia" e "está expectante e ansioso", clima que envolve os partidos, os líderes locais, a sociedade civil e os cidadãos, passando ainda pela diáspora e pelos empresários.
"Os cabo-verdianos precisam de alguém que, com alguma efetividade, possa trabalhar todas essas dimensões para o futuro. Acho que posso dar uma boa contribuição enquanto árbitro, se me candidatar e for eleito Presidente da República", concluiu.