Bolsonaro culpa ONGs, ONGs culpam Bolsonaro. Enquanto isso, Amazónia arde

O presidente brasileiro passou da vitimização ao ataque e culpou as ONGs pelos incêndios que devastam a Amazónia. Declarações foram criticadas por ambientalistas. Enquanto os dois lados trocam acusações, as chamas consomem o pulmão do planeta.

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Fábio Nunes
22/08/2019 08:40 ‧ 22/08/2019 por Fábio Nunes

Mundo

Amazónia

A Amazónia continua a arder. Um problema que não diz respeito só ao Brasil e aos outros países que têm dentro das suas fronteiras a floresta tropical, mas também ao resto do mundo face à importância que a Amazónia assume, mais ainda perante o agravamento dos efeitos das alterações climáticas.

Mas enquanto a Amazónia arde trocam-se acusações no Brasil. Jair Bolsonaro começou por se queixar de estarem sempre a imputar-lhe as culpas por tudo o que acontece na Amazónia - esta quarta-feira disse que passaram de chamá-lo de “capitão motosserra” a “Nero” - mas posteriormente passou ao ataque.

O presidente brasileiro acusou as ONGs (Organizações Não Governamentais) de serem as responsáveis pelas queimadas que resultaram em incêndios no pulmão do mundo.

Bolsonaro não identificou as ONGs a que se referia, tão pouco apresentou provas que sustentassem as acusações. Considerou que a “ação criminosa” das ONGs teria como objetivo “chamar a atenção” e prejudicar o seu governo. O motivo para as ONGs poderem fazer algo deste género? Segundo Bolsonaro, a decisão do governo brasileiro de retirar subsídios a estas organizações.

As acusações geraram indignação no seio de organizações não governamentais. Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), criticou as acusações de Bolsonaro.

“Essas afirmações do presidente da República são completamente irresponsáveis porque as ONGs têm o meio ambiente como prioridade. Não faz sentido nenhum dizer que as ONGs estão a incendiar a floresta, pelo contrário. É um grande absurdo”, salientou.

Um dos diretores da WWF Brasil, Raul Valle, também falou em irresponsabilidade do líder do Brasil e culpou a falta de controlo por parte do governo na Amazónia.

“É uma declaração leviana, irresponsável, de diversionismo do presidente. Quem é que ele acha que está a enganar? Os dez municípios com maior foco de incêndios este ano na Amazónia são os mesmos dez municípios que têm o maior número de desmatamentos. Só não vê quem não quer”, frisou.

Ministro do Ambiente fala... em fake news

O ministro do Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, preferiu focar-se noutra questão. Uma das notícias que tanto a imprensa brasileira como a internacional destacaram foi a das nuvens que deixaram São Paulo às escuras em pleno dia. Um fenómeno que resultou da combinação da humidade provocada por uma frente fria que atingiu São Paulo e do fumo proveniente dos incêndios na Amazónia.

As imagens e vídeos circularam nas redes sociais e passaram nas televisões. Mas, para Ricardo Salles, relacionar o céu escuro na metrópole paulista com os fogos na Amazónia é um exemplo de fake news. Em várias publicações na sua conta de Twitter, o ministro insistiu na ideia de que o tempo seco, o vento e o calor contribuíram para o aumento significativo dos incêndios.

Isto, embora o governador do estado do Amazonas tenha alertado desde o início do mês para o impacto das “queimadas não autorizadas”.

Enquanto esta troca de acusações decorre, o governo brasileiro parece sacudir a 'água do capote' do que se está a passar na Amazónia. A floresta continua a arder, a ser devastada. Uma destruição, que aparentemente, está longe de ter um fim à vista.

Recorde-se que na quarta-feira foram divulgados dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que destacam o número recorde de incêndios no Brasil. Entre janeiro e agosto deste ano, o Inpe registou mais de 72 mil incêndios no território brasileiro - mais de metade na Amazónia -, um aumento de 84% quando comparado com o período homólogo. Só no espaço de uma semana houve cerca de 9 mil incêndios na floresta da Amazónia.

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