Na passada quinta-feira, durante 12 horas, elementos da Guarda Nacional mexicana e membros do cartel de Sinaloa estiveram envolvidos numa batalha na cidade de Culiacán. Oito pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas, e caiu por terra o objetivo das autoridades de capturarem Ovidio Guzmán López, o filho de Joaquin ‘El Chapo’ Guzmán, o antigo líder do poderoso cartel de Sinaloa.
O governo mexicano assumiu publicamente que preferiu libertar Ovidio Guzmán López do que arriscar o prolongar de uma sangrenta batalha no meio da cidade. A notícia correu mundo, mas esta não foi a primeira vez que o governo cedeu na longa guerra com os cartéis de droga do país.
Segundo a Associated Press, em vários estados do México há muito tempo que o governo abdicou do seu controlo em algumas cidades, por vezes em regiões inteiras. O estado de Michoacán é um exemplo disso mesmo. A cidade de El Aguaje é completamente controlada pelo Jalisco New Generation Cartel.
“Eles são a lei aqui. Se temos um problema, vamos ter com eles. Resolvem-no rapidamente”, disse uma jovem mãe que vive em El Aguaje e que acrescentou que a polícia tem demasiado medo para entrar na cidade. Ainda na semana passada, quando os agentes da polícia mexicanos fizeram uma rara aparição em El Aguaje, foram alvo de uma emboscada. 13 polícias foram assassinados pelo Jalisco New Generation Cartel.
No estado de Guerrero, soldados e a polícia permitem que grupos de vigilantes, muitos dos quais aliados aos cartéis de narcotráfico, andem armados, evitando apenas que invadam os territórios dos seus rivais.
Já no estado de Tamaulipas, no norte do México e junto à fronteira com os Estados Unidos, o cartel do Nordeste – anteriormente conhecido como Zetas – tem um controlo quase absoluto. A situação chegou a tal ponto que recentemente o cartel ordenou aos postos de abastecimento de combustível para recusarem atestar os veículos do exército mexicano.
Estes são apenas alguns exemplos. Em muitas regiões do México, os cartéis de narcotráfico exercem um controlo extenso há pelo menos uma década. Para isso contribuiu em grande medida o seu enriquecimento, com os lucros do tráfico de droga. Os cartéis têm à sua disposição verdadeiros arsenais de armas, como se comprovou em Culiacán, e subornam frequentemente elementos das forças de segurança e políticos.
Com refere a AP, tendo em conta esta perspetiva, a decisão do governo de libertar Ovidio Guzmán López pouco depois de o ter capturado só surpreende pela forma como o governo mexicano abdicou da pretensão de impor a sua autoridade.