A ex-presidente Dilma Rousseff (2010-2016) revelou uma conversa que teve pelo telefone com Lula, pouco depois da sua libertação. A sucessora de Lula no Governo contou que o ex-chefe de Estado está feliz e consciente do papel como opositor.
"Acabo de falar com Lula. Ele percebe que tem pela frente um caminho muito importante contra a perda de direitos no Brasil. Ele está muito disposto a ir a todos os lugares do Brasil e ter uma posição de clara resistência. Ele está muito consciente da sua importância e do seu desafio como o grande representante da esperança no Brasil", contou Rousseff aos jornalistas em Buenos Aires.
A ex-presidente está na Argentina para a reunião do Grupo de Puebla, uma nova aliança de esquerda que pretende ser a alternativa progressista às políticas neoliberais da direita na América Latina. A liberdade de Lula alterou a agenda do encontro e deu dimensão à reunião que convoca líderes da esquerda latino-americana.
Para Dilma Rousseff, "a liberdade de Lula significa a reafirmação da democracia no Brasil", que não estará completa sem que seja anulada a sua condenação, num recurso que os advogados de Lula tentam no Supremo Tribunal Federal, alegando a falta de imparcialidade do juiz Sérgio Moro que o julgou e que agora é ministro da Justiça do Governo Bolsonaro.
"Esse processo só acabará quando Lula for declarado inocente. Não vamos parar aqui. Não nos basta a liberdade de Lula. Queremos a sua inocência porque ele foi condenado sem culpa e sem provas. Queremos a volta plena dele à vida política", anunciou Rousseff, fazendo o novo gesto com as mãos, lançado em Buenos Aires: com uma mão, os dedos em forma de L (por Lula); com a outra, os dedos em forma de V (por Volta).
"Lula Volta", disse Dilma Rousseff em relação a um possível regresso do ex-presidente à cena eleitoral.
O deputado e filho do Presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, publicou que o dia da liberdade de Lula é um dia triste para quem é honesto no Brasil: "Hoje é um dia muito triste para quem trabalha, para quem é honesto no país", afirmou Eduardo Bolsonaro.
"Esse tipo de afirmação mostra que ele desrespeita mais uma vez a Justiça", disparou Dilma Rousseff, relembrando que o filho do Presidente já defendeu fechar o Supremo Tribunal e reeditar o Ato Institucional número 5 que legalizou a perseguição política no Brasil, dando início à prisão e à tortura durante o regime militar (1964-1985).
"Eles (família Bolsonaro) têm de se preocupar muito com a apuração da morte de Marielle e do seu motorista Anderson", advertiu Rousseff em relação às investigações que associam o suspeito de assassinar a ex-vereadora carioca com o presidente Bolsonaro.
Para Dilma Rousseff, com a liberdade de Lula, começa a ser desmontado na região a estratégia de 'lawfare' (termo para definir uma guerra judiciária com o uso de instrumentos da Justiça para intervir na política e para destruir adversários para se conseguir chegar ao poder) através da lei.
"Esse mesmo método foi usado no Brasil, na Argentina, no Equador", disse em relação às acusações sobre corrupção que encurralam também os ex-presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Argentina, Cristina Kirchner.
"Foi a forma que o neoliberalismo encontrou para chegar ao poder, retirando os adversários do caminho contra os quais não poderia ganhar", acusou. "Isso começa a ser interrompido agora com a liberdade de Lula", celebrou.