Novo presidente de fundação afro-brasileira nega existência de racismo

O governo brasileiro nomeou quarta-feira para novo presidente da Fundação Cultural Palmares, entidade pública que visa promover a cultura afro-brasileira, um jornalista que nega a existência de racismo e defende um "movimento de negros da direita conservadora".

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© Sérgio Camargo/Facebook

Lusa
28/11/2019 11:45 ‧ 28/11/2019 por Lusa

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O executivo brasileiro, liderado por Jair Bolsonaro, efetuou alterações em entidades que integram a Secretaria da Cultura, como é o caso da Fundação Cultural Palmares, com a nomeação para seu presidente do jornalista e militante da extrema-direita Sérgio Nascimento de Camargo.

Na sua rede social Facebook, Camargo mostra-se apoiante do atual governo e protesta com frequência contra causas que envolvam o movimento negro, defendendo, por exemplo, o fim do feriado da Consciência Negra.

"O Dia da Consciência Negra é uma vergonha e precisa ser combatido incansavelmente até que perca a pouca relevância que tem e desapareça do calendário. É um feriado político, instituído pela esquerda com o objetivo de propagar o revanchismo histórico, o ressentimento racial e a degradante agenda progressista. Sou negro e repudio essa data", escreveu o jornalista.

Numa outra publicação, Camargo compara o racismo entre o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA), afirmando que apenas no segundo país ele é "real".

"O Brasil tem racismo 'nutella'. Racismo real existe nos EUA. A 'negrada' daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", afirmou, em 15 de setembro, o novo presidente da Fundação Cultural Palmares.

Sérgio Camargo acusa também a esquerda de "manipular" a comunidade negra brasileira em seu beneficio.

"A esquerda usa 'pretos, pobres e favelados' como escudo contra adversários. Em nome de uma suposta reparação histórica, ao 'oprimido' tudo é permitido", disse o brasileiro.

"(...)Não importa o país. Esquerdistas têm nojo de pretos mas, para faturar politicamente, fingem defendê-los do "opressor" branco e do racismo. O número de imbecis que cai nessa conversa aumenta assustadoramente! O criolo que segura a 'sombrinha' não é caso isolado. Pretos de esquerda já assumiram proporção de praga, e envergonham-me", acrescentou no Facebook.

Foi através da rede social Facebook que Sérgio Camargo, na página da sua namorada Maya Felix, confirmou a sua indicação para liderar a Fundação Cultural Palmares.

"Fui nomeado nesta quarta-feira presidente da Fundação Cultural Palmares, a convite do secretário especial da Cultura, Roberto Alvim. Assumir o cargo será uma grande honra e ao mesmo tempo um desafio! Grandes e necessárias mudanças serão implementadas na Fundação Palmares", anunciou.

Através da conta de Facebook da sua parceira, após a sua ter sido bloqueada, Camargo conclui: "Sou grato a Deus por essa oportunidade. A minha atuação à frente da Fundação será norteada pelos valores e princípios que elegeram e conduzem o governo Bolsonaro".

A Fundação Cultural Palmares, cujo estatuto foi aprovado em 1992, tem como missão "os preceitos constitucionais de reforços à cidadania, à identidade, à ação e à memória dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade brasileira, além de fomentar o direito de acesso à cultura e à ação do Estado na preservação das manifestações afro-brasileiras".

Contudo, o novo presidente da Fundação demarca-se de qualquer raiz africana na sua formação, afirmando que "rejeita a africanidade imposta pela esquerda".

"Não tenho nada a ver com a África, os seus costumes e 'religião'. Rejeito a africanidade imposta pela esquerda. Sou brasileiro", escreveu Camargo no Facebook, acrescentando numa outra publicação: "Se você é africano e acha que o Brasil é racista, a porta da rua é a serventia da casa. Volte para a paradisíaca África".

Carmargo foi indicado para o cargo por Roberto Alvim, um polémico dramaturgo nomeado como secretário especial de Cultura no início do mês, por Jair Bolsonaro.

Roberto Alvim é diretor do Centro de Artes Cénicas da Funarte, a Fundação Nacional de Artes do Brasil, e gerou polémica no final de setembro, ao apelidar a atriz brasileira de 90 anos Fernanda Montenegro de "sórdida" por "deturpar os valores mais nobres da civilização, denegrindo a sagrada herança judaico-cristã".

Em outubro, o dramaturgo afirmou que estava a formar um "exército de grandes artistas espiritualmente comprometidos com o Presidente e com os seus ideais", que estariam dispostos a "dar as suas vidas pela edificação do Brasil, através da criação de obras de arte que redefinam a história da cultura nacional".

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