Entre 2020 e 2030 vão atingir 40 anos de funcionamento 202 reatores, com capacidade para produzir gigawatts de eletricidade, mas mesmo entendendo a longevidade de algumas centrais para 60 anos, o número no mesmo período pode chegar aos 158 reatores, ou 132 gigawatts.
"Não acredito que estes reatores sejam capazes de operar 60 anos. Daqui a dez anos os sistemas [de produção de energia] já vão ser muito diferentes e vão ser ainda menos competitivos do que agora", afirmou Mycle Schneider, um dos autores do Relatório Anual da Indústria Nuclear Mundial.
O desgaste das centrais e a falta de investimento na construção de novas unidades é agravado pelo crescimento da produtividade das energias renováveis globalmente.
Segundo o estudo, em 2018, dez países com energia nuclear produziram mais eletricidade com energias renováveis do que através da fissão do urânio, incluindo a China, o país que mais investiu nesta tecnologia nos últimos anos.
Nove reatores foram iniciados em 2018, dos quais sete na China e dois na Rússia, e quatro centrais foram iniciadas no primeiro semestre de 2019, das quais duas na China, mas o número de centrais em construção caiu globalmente pelo sexto ano consecutivo, de 68 reatores no final de 2013 para 46 em meados de 2019, dos quais 10 na China.
Em 2018, a produção de energia nuclear no mundo aumentou 2,4%, para 370 gigawatts, dos quais 1,8% devido a um aumento de 19% na China, mas a quota da energia nuclear na produção global de eletricidade continuou o seu declínio, passando de um pico histórico de cerca de 17,5% em 1996 para 10,15% em 2018.
Pelo contrário, um recorde de 165 gigawatts de energia de fontes renováveis foi adicionado às redes do mundo em 2018, contra 157 gigawatts adicionados no ano anterior.
Atualmente, 31 países possuem centrais nucleares, com destaque para os EUA, França, China e Rússia mas só quatro começaram nos últimos 30 anos, incluindo China, Irão, México e Roménia.
Itália, Cazaquistão e Lituânia abandonaram os seus programas de energia nuclear.
Interesses militares, mas também económicos e geopolíticos, impulsionam a indústria de energia nuclear, apesar dos elevados custos comparando com as energias renováveis, afirmou Mycle Schneider.
"Eu acho que existem várias motivações. E é muito complexo, na verdade, descobrir qual é exatamente o condutor da tomada de decisão. Por exemplo, acho que a geopolítica é um fator determinante", afirmou hoje em Londres, durante a apresentação do Relatório.
Na sua opinião, o envolvimento de empresas chinesas na construção da central nuclear britânica de Hinkley Point, sugeriu, poderá ter mais interesse como uma plataforma estratégica na Europa e menos como um meio para obter segredos militares.