"É basicamente impossível negociar tudo o mencionei e as outras pastas que existem e, portanto, teremos de priorizar, tendo em conta o prazo final de 2020. E só posso recomendar que priorizemos de forma a abordar os tópicos para os quais, no final do ano e se ficarmos sem tempo, não tenhamos um acordo internacional ou uma alternativa para aplicar", disse Ursula von der Leyen, na universidade London School of Economics.
Alertando para o risco de uma ausência de acordo, lembrou que o acordo terá de ser negociado em dez meses no máximo para permitir o processo de ratificação nos parlamentos nacionais e regionais europeus.
"Eu preferiria olhar para todo o cenário durante o verão ou antes do início do verão porque podemos querer reconsiderar juntos o prazo antes de 1 de julho", acrescentou no evento em Londres, onde se vai encontrar esta tarde com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
O Acordo de Saída do Reino Unido da UE formaliza a saída do Reino Unido em 31 de janeiro, às 23h00 (locais e GMT) da UE, após 47 anos como membro.
Inicia-se então um período de transição até 31 de dezembro de 2020, durante o qual os britânicos continuarão a aplicar e a beneficiar das regras europeias, mas sem estarem representados nas instituições europeias e sem terem o direito de intervir nas suas decisões.
Durante estes onze meses serão também realizadas negociações entre Londres e Bruxelas para definir as condições do futuro relacionamento e concluir um acordo de comércio livre.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já fez saber que não pretende prolongar as negociações para além de 2020, mas a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considerou um "grande desafio" cumprir este prazo.
Na palestra, Ursula von der Leyen garantiu que a UE "está pronta para negociar uma nova e abrangente parceria verdadeiramente ambiciosa com o Reino Unido", prometendo "fazer o máximo" e "ir o mais longe" possível.
"Mas a verdade é que a nossa parceria não pode e não será a mesma de antes, e não pode e não será tão próxima como antes", vincou.
Sem aderir à liberdade de circulação de pessoas e sem se comprometer com o alinhamento às leis ambientais, laborais, fiscais e sobre ajudas estatais, argumentou, não é possível ao Reino Unido o acesso ao mercado único que permite a circulação de capitais, bens e serviços.
"Quanto mais divergência houver, mais distante será a parceria. E sem uma extensão do período de transição para além de 2020, não podemos esperar chegar a um acordo sobre todos os aspetos da nossa nova parceria. Teremos de priorizar", justificou.
Mesmo determinada em proteger o mercado único e a união aduaneira para manter a integridade da União Europeia, a presidente da Comissão Europeia afirmou estar aberta a um acordo de comércio livre que não imponha taxas aduaneiras ou quotas ao Reino Unido e a "uma parceria que vá muito além do comércio e que seja inédita no seu alcance, desde o combate às alterações climáticas até à proteção de dados, pescas, energia, transportes, espaço, serviços financeiros e segurança".
"Estamos prontos para trabalhar dia e noite para fazer o máximo possível no prazo que temos. Nada disso significa que será fácil. Mas vamos começar essa negociação de uma posição de certeza, boa vontade, interesses partilhados e determinação", acrescentou Von Der Leyen.
Ursula Von Der Leyen e Boris Johnson, vão encontrar-se esta tarde na residência oficial do primeiro-ministro britânico, em Downing Street, naquele que será o primeiro frente-a-frente desde a entrada em funções da presidente da Comissão Europeia desde que entrou em funções em dezembro.