O documento refere ainda que os países em risco moderado (Nigéria, Etiópia, Sudão, Angola, Tanzânia, Gana e Quénia) estão menos preparados e, portanto, mais vulneráveis e precisam de apoio para ajudar na deteção e tratamento de casos importados do novo coronavírus (denominado Covid-19).
"O aumento de recursos, vigilância e capacitação deve ser urgentemente priorizado nos países africanos com risco moderado de importar novos casos da doença, pois estima-se que estes países estejam mal preparados para detetar casos e limitar a transmissão", pode ler-se na nota.
Estas posições resultam de um estudo publicado pela revista The Lancet que avalia a prontidão (ou seja, a capacidade do sistema de saúde) e a vulnerabilidade (condições demográficas, ambientais, socioeconómicas e políticas) dos países africanos, bem como a probabilidade de importar casos de Covid-19 da China.
Ainda assim, os autores afirmam que estes dados devem ser interpretados no seu contexto, porque estimam que o risco geral de importar casos de Covid-19 para África é menor do que para a Europa, mas que a capacidade de resposta e reação é mais limitada no continente africano.
Argélia, Etiópia, África do Sul e Nigéria foram incluídas nos 13 países prioritários identificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com base nos vínculos diretos e volume de viagens à China, apesar do primeiro caso de Covid-19 no continente ter sido confirmado no Egito, a 14 de fevereiro.
A China é o principal parceiro comercial de África, com altos volumes de viagens entre os dois territórios.
Várias medidas já foram adotadas para impedir a importação de casos em vários países africanos. No entanto, limitar e controlar a transmissão após a importação requer medidas adicionais, como vigilância reforçada, identificação rápida de casos suspeitos, transferência e isolamento de pacientes, diagnóstico rápido, rastreamento e acompanhamento.
"Embora quase três quartos de todos os países africanos possuam um plano de preparação para uma pandemia de gripe, a maioria está desatualizada e é considerada inadequada para lidar com uma pandemia global", afirmou a autora do estudo, Vittoria Colizza, do Instituto francês de Saúde e Investigação Médica (Inserm) e da Universidade Sorbonne.
A investigadora prosseguiu dizendo que "apesar dos esforços para melhorar a capacidade de diagnóstico da OMS", há países que "não têm recursos para testar o vírus rapidamente", o que significa que os testes precisariam de ser feitos noutros países.
Vittoria Colizza referiu ainda que as consequências das recentes epidemias e pandemias (Gripe H1N1 ou Ébola) "destacaram a necessidade de reforçar as capacidades e infraestruturas nacionais de saúde pública", porque esses fatores são "a primeira linha de defesa em emergências de doenças infeciosas" e apelou ao envolvimento da comunidade internacional.
Os autores vincam que o estudo tem limitações, nomeadamente que só usaram dados de viagens aéreas, e que o risco de importação através de outras entradas, como portos marítimos, não foi avaliados.
O coronavírus Covid-19 provocou 1.873 mortos e infetou cerca de 73.400 pessoas a nível mundial.
A maioria dos casos ocorreu na China, onde a epidemia foi detetada no final de 2019, na província de Hubei, a mais afetada pela epidemia.
Além de 1.868 mortos na China continental, há a registar um morto na região chinesa de Hong Kong, um nas Filipinas, um no Japão, um em França e um em Taiwan.
Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), há 45 casos confirmados na União Europeia e no Reino Unido.
Em Portugal, houve 11 casos suspeitos, mas em nenhum deles se confirmou infeção.