"Temos de reaprender a nos saudar face a este vírus. Nem beijos, nem apertos de mão. [Em França] Temos um lado latino que gosta do contacto físico e é mais uma maneira de mostramos que apreciamos alguém. Claro que esta proibição faz com que as relações se tornem mais frias", indica à Lusa France de Heere, formadora de etiqueta e boas maneiras à francesa.
A proibição desta forma de cortesia foi uma das primeiras medidas que o Governo francês implementou quando o número de casos de Covid-19 começou a aumentar no país e uma das que mais chamou a atenção da população.
France de Heere considera que 'faire la bise' ou dar beijos no momento do encontro é algo muito 'frenchie' e a norma social determina que dois é o mais indicado - sendo que o cumprimento de dois beijos entre homens também é banal em França - , embora no sul do país chegue a haver o costume de dar quatro ou até seis beijos num contexto mais familiar.
"As apresentações são muito importantes e eu sei que esta maneira de saudar alguém com beijos é muito particular da sociedade francesa, especialmente, por exemplo, para os chineses que fazem formação comigo. Mas é importante mostrar aos franceses que há outras maneiras de se apresentarem, através de um olhar ou de palavras simpáticas", explica France de Heere.
O cumprimento através do beijo tem até vindo a generalizar-se no meio profissional, com algumas empresas a preferirem este tipo de contacto. "Nalgumas empresas, o cumprimento através de beijo é feito de forma muito rápida e isso para os estrangeiros é um pouco difícil de assimilar, até porque traz sempre alguma coisa de mais pessoal", afirma.
Com a realização das eleições municipais a 15 e 22 de março, esta proibição do contacto físico chega numa altura em que esse mesmo contacto é algo quase indispensável a uma campanha eleitoral, especialmente a uma campanha local.
"No fim de semana passado tive um evento que reuniu cerca de 1.000 pessoas e, espontaneamente, as pessoas querem abraçar-nos e é verdade que é complicado dizer às pessoas que não é possível. Claro que queremos conversar e estar com elas. Mas talvez seja o papel do candidato ou do eleito local de dar o exemplo e dizer que há regras a respeitar", conta à Lusa Marie-Hélène Euvrard, adjunta do autarca de Brunoy e atualmente em campanha eleitoral para a sua reeleição.
"Para os candidatos muda logo a forma de contactar com as pessoas. Quando vão aos mercados procuram exatamente esse contacto para criar esses laços. Têm de passar a apostar no olhar, numa forma calorosa de falar e no sorriso. Cada um vai ter de arranjar uma forma de compensar esta falta do contacto físico", considera France de Heere.
Apesar de os grandes encontros de campanha, especialmente em Paris, terem sido anulados devido ao Covid-19 e os mercados em certos setores terem sido proibidos, a campanha eleitoral prossegue na maior parte das cidades francesas a todo o vapor, mas com menos beijos, abraços e apertos de mão.