"Estamos profundamente preocupados com o calendário do plano proposto, que visa adiar ainda mais as medidas de distanciamento social. Os dados atuais sobre o número de infeções no Reino Unido estão alinhados com as curvas de crescimento observadas em outros países, incluindo Itália, Espanha, França e Alemanha. Os mesmos dados sugerem que o número de infetados será da ordem de dezenas de milhares dentro de alguns dias", avisam.
Os cerca de 240 cientistas preveem que, sem medidas de controlo, o surto "afetará milhões de pessoas nas próximas semanas", deixando o serviço nacional de saúde (NHS, sigla ingelsa) sem capacidade para lidar com o fluxo de pacientes que necessitam de tratamento intensivo e equipamento ventilador.
O número de mortes causadas pelo Covid-19 no Reino Unido duplicou para 21 desde sexta-feira, segundo o balanço diário publicado no sábado, pelas autoridades britânicas, que registaram 1.140 casos positivos em 37.746 pessoas testadas.
O governo britânico ativou na quinta-feira a segunda fase do plano de combate ao Covid-19, destinada a controlar a propagação do novo coronavírus, exortando as pessoas com sintomas para se auto-isolarem durante uma semana.
Nas medidas anunciadas, o governo proíbe visitas de estudo ao estrangeiro e aconselha as pessoas idosas, mais vulneráveis a esta doença, a não viajarem em cruzeiros, mas não ordenou a proibição de grandes eventos nem o encerramento de escolas.
Porém, estes cientistas apelam ao governo para implementar medidas de distanciamento social imediatamente, acreditando que o aumento de casos "pode ser reduzido drasticamente, e milhares de vidas podem ser poupadas".
A posição divulgada hoje junta-se à de muitos outros especialistas que têm criticado o plano de Boris Johnson, que tem invocado estar a seguir uma "abordagem conduzida pela ciência".
O consultor científico do governo britânico, Patrick Vallance, defendeu na sexta-feira que parte da população deve ser infetada pelo novo coronavírus para que a sociedade seja "imunizada em grupo" contra surtos futuros.
Especialistas em comportamento social terão também alertado as autoridades para o risco de impor certas medidas demasiado cedo devido ao risco de "fatiga com o auto-isolamento".
Mas, perante o multiplicar de vozes críticas da estratégia do governo, as autoridades britânicas estão dispostas a implementarem medidas como a proibição de grandes eventos públicos já a partir da próxima semana, noticiou no sábado a imprensa britânica.
Entretanto, o governo decidiu intensificar uma campanha publicitária, inicialmente sobre a necessidade de lavar as mãos, para convencer as pessoas com febre alta e tosse persistente a permanecerem em casa durante sete dias.
"Combater esse vírus vai exigir um esforço nacional. Todos nós temos um papel a desempenhar para diminuir a propagação e proteger os idosos e [pessoas mais] vulneráveis", afirmou hoje em comunicado o ministro da Saúde, Matt Hancock.