Em várias ocasiões, a sua posição e as suas reformas, que sempre tiveram a oposição da área mais ultraconservadora da igreja, foram deturpadas nas redes sociais, numa tentativa de apresentar Francisco como um papa radical ao serviço de uma "agenda globalista" que quer acabar com a cultura ocidental.
Neste sentido, imagens geradas por inteligência artificial (IA) do sumo pontífice a saudar um "padre satânico" tornaram-se virais na internet e alvo de desinformação.
"Católicos criticam o Papa Francisco por ter cumprimentado um padre satânico em Bérgamo", diziam alguns utilizadores que, apesar das falhas nas imagens, divulgaram-nas como reais.
As redes sociais também ligaram o Papa a antigas teorias da conspiração que o acusam de impor, dentro e fora da Igreja Católica, os preceitos da elite globalista que, segundo essas mensagens, é servida por pessoas tão diversas como o bilionário Bill Gates.
Outra alegação falsa surgiu no início deste ano, referindo que o Papa apelou à criação de um "governo global" para subjugar a população mundial a este regime.
Na realidade, estas mensagens deturpavam o discurso do Papa no Dia Mundial da Paz, no qual apelava aos países ricos para perdoarem as dívidas dos Estados pobres e para desenvolverem uma "nova arquitetura financeira, que conduza à criação de um documento financeiro global, baseado na solidariedade e na harmonia dos povos".
Além disso, a decisão do Papa de autorizar os padres a abençoar casais do mesmo sexo causou grande agitação, levando muitos internautas a afirmar falsamente que a Igreja tinha legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Pouco antes desta decisão, surgiram mensagens virais que afirmavam que o Papa tinha exortado as "mulheres europeias" a reproduzirem-se com "imigrantes muçulmanos" para "combater a baixa taxa de natalidade".
Afirmações que os utilizadores difundiram como prova da existência da teoria da "Grande Substituição", que defende que os governos europeus estão a promover políticas para substituir a população indígena por pessoas de África e dos países árabes.
Todas estas publicações deturpavam uma entrevista do Papa ao jornal católico francês La Croix, em 2016, na qual salientou a importância da integração dos imigrantes na Europa, sem mencionar nada sobre a reprodução feminina.
Na mesma linha, outros conteúdos que se tornaram virais nas redes sociais acusam o Papa de "cancelar" a Bíblia e tentar substituí-la por um "novo livro", ou de mudar o feriado de Natal para a "Festa da Paz".
Mas a desinformação também utilizou a figura do Santo Padre para exaltar os valores cristãos.
No Natal passado circulou um vídeo cujo áudio foi manipulado com IA para atribuir ao Papa declarações falsas sobre o "verdadeiro significado do Natal", nas quais reivindicava Jesus Cristo em oposição ao Pai Natal.
O internamento do Papa foi o último caso de desinformação sobre Francisco, através de uma suposta imagem sua no hospital Gemelli, em Roma, onde foi internado a 14 de fevereiro devido a uma pneumonia bilateral.
A imagem viral nas redes sociais mostra o Papa Francisco vestido com uma batina branca e deitado numa maca com um ventilador a tapar-lhe a boca e o nariz.
As várias incoerências da imagem, como falhas na texturas e nas formas, não impediram que fosse difundida em várias redes sociais, sendo um exemplo do potencial das ferramentas de IA para gerar desinformação.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
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