A Iniciativa Global contra o Crime Transnacional Organizado (GI-TOC, na sigla em inglês), com sede em Genebra, lançou hoje o projeto #CovidOCWatch, que pretende monitorizar o impacto da crise global de saúde nas economias ilegais, bem como explorar a sua relação com o crime organizado.
A organização não-governamental (ONG), que junta uma rede de 500 especialistas em direitos humanos, democracia, governação e desenvolvimento, afirma ter já recebido informações de várias regiões que "indicam que as redes criminosas já estão a capitalizar a perturbação", criada pelas medidas adotadas para responder ao novo coronavírus e pela concentração dos esforços da polícia na aplicação dessas medidas.
Guiné-Bissau, Albânia, Colômbia, África do Sul, Quénia, China, Laos e Suíça são exemplos de países de onde surgem sinais preocupantes de como o crime organizado está a tirar proveito dos efeitos da luta global contra a doença.
Produção e tráfico de droga, tráfico de imigrantes e subversão das regras da quarentena e do estado de emergência, esquemas fraudulentos de recolha de dinheiro alegadamente contaminado com o novo coronavírus, saqueamento de habitações a pretexto de as desinfetar ou tráfico de espécies protegidas são algumas das denuncias que surgiram destes países.
Na Guiné-Bissau, considera a GI-TOC, "redes criminosas e elementos corruptos da polícia estão a capitalizar o tumulto gerado pela pandemia".
"O facto de um avião ter sido avistado a aterrar a 18 de março - depois de o aeroporto ter fechado para evitar a aterragem de passageiros infetados - levantou fortes suspeitas de que o encerramento está a ser usado como um disfarce para a aterragem de aviões que transportam cocaína", adiantou a organização, que cita informações do seu observatório na África Ocidental e de pessoal baseado em Bissau.
A nível mundial, a organização assinala que o setor da saúde se tornou num alvo prioritário dos grupos criminosos, com o aumento exponencial das vendas de produtos médicos falsificados, bem como com um registo crescente de ações de contrabando e roubo de medicamentos.
Os esquemas fraudulentos 'online', a desinformação e outros cibercrimes estão a tornar-se "uma indústria florescente" potenciada, segundo a organização, pela quantidade de tempo que as pessoas em confinamento passam na Internet.
"Está a surgir uma série de esquemas de 'phishing' relacionados com o coronavírus, nos quais criminosos personificam fontes de informação confiáveis, como a Organização Mundial de Saúde, para espalhar 'malware' ou recolher informações pessoais", apontou.
A Interpol emitiu um alerta contra fraudes nas quais as pessoas são enganadas para comprar equipamentos médicos inexistentes, fazendo pagamentos em contas controladas por criminosos, estimando-se que tenham já sido extorquidos milhões de dólares.
Por outro lado, a ONG admitiu que as restrições de viagens e movimentações em espaços públicos e a drástica redução na atividade económica e no comércio internacional possam travar alguma atividade criminosa, como a violência nas ruas, mas estimou que este será um "impacto de curto prazo" e que rapidamente as redes criminosas se adaptarão à nova realidade.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais 480 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 22.000.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.