Brasil atribui aumento da desflorestação na Amazónia ao novo coronavírus

O Governo brasileiro atribuiu hoje o aumento de 51% da desflorestação da floresta amazónica no seu território no primeiro trimestre do ano com o aumento dos esforços de combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus.

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Lusa
14/04/2020 17:57 ‧ 14/04/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, que chefia o Conselho Nacional da Amazónia, explicou numa videoconferência organizada pelo jornal O Estado de S.Paulo que pessoas e empresas que vendem madeira ilegalmente extraída da floresta estão "aproveitando" a crise da saúde para aumentar as suas atividades.

Segundo o vice-presidente brasileiro, a chegada do novo coronavírus ao Brasil, onde o primeiro caso foi registado em 26 de fevereiro, causou uma diminuição nas ações de controlo contra a desflorestação da Amazónia, devido às medidas de isolamento adotadas no país.

A desflorestação da Amazónia brasileira no primeiro trimestre de 2020 foi a mais alta registada nos últimos cinco anos e aumentou 51,4% em comparação com o mesmo período de 2019.

Hoje o Governo publicou a exoneração do diretor de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Olivaldi Azevedo, no diário Oficial da União.

A demissão foi assinada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que não explicou o motivo da exoneração.

Segundo estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre janeiro e março deste ano, a Amazónia brasileira perdeu 796,08 quilómetros quadrados de cobertura vegetal, face aos 525,63 quilómetros quadrados desflorestados há um ano.

Dessa forma, a destruição da floresta na região continua a aumentar e no ano passado a taxa de desflorestação cresceu 85% somando 9.165,6 quilómetros quadrados, seu nível mais alto desde 2016.

Os resultados correspondem a uma projeção provisória feita pelo INPE com base num sistema de alerta baseado na análise de imagens de satélite.

Organizações da sociedade civil e ambientalistas alegam que o aumento da destruição da floresta decorre do discurso do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que defende a exploração dos recursos naturais da Amazónia e o fim da demarcação de novas terras indígenas.

Hamilton Mourão, porém, destacou que na semana passada foi estabelecido um "gabinete de gerenciamento de crise", no qual os ministérios da Defesa, Justiça e Meio Ambiente, entre outros, participam para preparar um plano que incluirá "ações repressivas" contra a desflorestação na Amazónia.

"Nesta sexta-feira, apresentaremos o plano e de lá o levaremos ao Presidente [Jair Bolsonaro] para que ele decida a linha de ação que deve ser adotada", explicou o vice-presidente.

Mourão previu que, a partir deste programa, o Brasil "aumentará sua capacidade de reprimir os crimes na Amazónia", apesar de todas as dificuldades e do desvio dos recursos económicos do Governo para o combate ao novo coronavírus.

Segundo o último balanço do Ministério da Saúde, o Brasil registou 1.328 óbitos e 23.430 casos confirmados de covid-19.

A situação da saúde em alguns estados brasileiros que tem em seu território parte da floresta amazónica preocupa as autoridades locais já que há falta de profissionais, hospitais e equipamentos para tratar possíveis pacientes infetados pela doença.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta.

Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 120 mil mortos e infetou mais de 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, cerca de 402 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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