"Temos a obrigação coletiva de continuar a garantir o progresso e a sua implementação. A paz na Colômbia não deveria ser vítima desta pandemia", sustentou no Conselho de Segurança o representante das Nações Unidas na Colômbia, Carlos Ruiz Massieu.
O diplomata considerou ser evidente que a covid-19 "está a afetar e continuará a afetar" o processo de paz e as atividades da missão da ONU no terreno, que entre outras atribuições deve verificar o cumprimento dos compromissos.
"A primeira prioridade é adotar as medidas necessárias para proteger os líderes sociais, defensores e defensoras dos direitos humanos e ex-combatentes", explicou Ruiz Massieu, que denunciou o prosseguimento da violência contra estas pessoas apesar do período de quarentena em vigor no país sul-americano.
No total, 195 ex-combatentes das extintas Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC) e dezenas de ativistas sociais foram assassinados desde a assinatura do acordo de paz, em setembro de 2016, e a ONU manifesta especial preocupação pela atual situação no departamento (província) de Putumayo, onde nas últimas semanas se repetiram os ataques e ameaças a líderes sociais e a pessoas que incentivam à substituição de cultivos ilícitos.
Como nota positiva, o representante da ONU destacou a detenção do dissidente das FARC Antonio Loaiza Quiñónez, aliás 'Azul', que as autoridades acusam de responsabilidade pelo assassínio de líderes sociais e ex-combatentes da antiga guerrilha nesta zona fronteiriça com o Equador e Peru.
Ruiz Massieu alertou ainda sobre ameaças emitidas nos últimos dias por grupos armados ilegais contra a população de Argelia, departamento de Cauca.
"Tal como diferentes setores na Colômbia se estão a unir para enfrentar a pandemia, é necessário que todos os setores se unam para pôr fim à epidemia de violência contra líderes sociais, defensores e defensoras de direitos humanos e ex-combatentes", assinalou.
O diplomata, entre diversas medidas, apelo para "melhorar a eficácia" de mecanismos como a Comissão nacional de garantias de segurança e a Unidade nacional de proteção, e ainda reforçar a segurança de cerca de 9.500 ex-guerrilheiros que vivem fora dos antigos Espaços Territoriais de Captação e Reincorporação (ETCR).
Ruiz Massieu recordou que, na sequência do apelo da ONU a uma trégua global devido no contexto da pandemia da covid-19, o Exército de Libertação Nacional (ELN, guerrilha marxista) declarou um cessar-fogo unilateral de um mês em abril, mas alertou sobre o prosseguimento de confrontos entre grupos armados ilegais em vários departamentos.
Em paralelo, a ONU exortou ao fortalecimento das bases do processo de reincorporação a longo prazo e assegurar que os seus benefícios sejam extensíveis a todos os ex-combatentes.
Nesse sentido, considera que o novo coronavírus implica que seja necessário mais apoio aos ex-combatentes que vivem fora dos antigos ETCR, por terem um acesso mais precário a serviços básicos como água ou saneamento.
Na reunião do Conselho de Segurança, que decorreu por videoconferência, também participou a chefe da diplomacia de Bogotá, Claudia Blum, que prometeu responder "ao maior problema" do país neste contexto, a "garantia de segurança" para ex-guerrilheiros, defensores dos direitos humanos, líderes sociais e comunidades vulneráveis.