Pedro Sánchez tomou posse em 8 de janeiro e formou o primeiro executivo de coligação entre o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Unidas Podemos (extrema-esquerda) com um apoio minoritário no parlamento.
"Penso que esta coligação, mesmo tendo um apoio minoritário, vai sobreviver, porque as duas forças estão condenadas a entender-se. Não há outra alternativa no parlamento", disse à agência Lusa o professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera.
Pedro Sánchez só conseguiu iniciar a sua segunda experiência como chefe do Governo depois de ser investido numa segunda votação da câmara em que conseguiu a maioria simples dos deputados e a abstenção que foi decisiva de dois partidos regionais independentistas, um catalão e outro basco.
El Gobierno trabaja para vencer al #COVID19 desde la unión. Una crisis como esta necesita del concurso de todos para salir adelante. Necesitamos una nueva forma de hacer política, debemos poner en marcha un Acuerdo para la reconstrucción social y económica de nuestro país. pic.twitter.com/S3dpded6Wc
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) April 15, 2020
Depois de dois meses iniciais com muitos anúncios de que vinham aí novos tempos, com políticas "progressistas" de esquerda, a ameaça de alcance ainda desconhecido provocada pela covid-19 levou à declaração do "estado de emergência", em vigor desde 15 de março.
Essa decisão deu a Sánchez poderes extraordinários que nenhum outro primeiro-ministro espanhol teve na época democrática (a partir de 1978) para combater uma pandemia que continua a provocar muitas mortes.
Precisamente um mês após a instauração desse período de exceção, os efeitos da gestão da crise estão a deteriorar rapidamente a vida política espanhola, com a oposição de direita a aumentar as críticas ao executivo, que também é confrontado com fricções internas, devido a diferenças importantes sobre como está a ser conduzida a luta contra a pandemia e sobre o futuro económico do país.
Sánchez tem de um lado os seus parceiros comunistas, que o pressionam a tomar medidas de extrema-esquerda de reposta à crise, e do outro a direita, que o acusa de se querer aproveitar da situação para destruir o tecido económico que cria a riqueza do país.
Muito pressionado, o primeiro-ministro quer agora iniciar a discussão de um pacto para a reconstrução de Espanha, com todas as forças políticas, governos regionais, empresários e sindicatos.
"Esta proposta de grande acordo não é mais do que marketing político com um futuro mais do que incerto, que nem a direita nem os independentistas querem", disse Carlos Barrera.
Pedro Sánchez pretende reeditar os chamados "Pactos da Moncloa", um compromisso assinado no palácio com o mesmo nome, que é a sede do Governo espanhol, durante a transição democrática espanhola, em 25 de outubro de 1977, e que teve o apoio de partidos, associações empresariais e sindicais, com o objetivo de estabilizar o processo de transição para o sistema democrático.
O politólogo Pablo Simón também está convencido de que este acordo é "impossível" e que o chefe do executivo apenas "pretende ganhar oxigénio" numa altura em que "a situação é muito incerta".
Enquanto no estrangeiro o grau de apoio nacional aos chefes de Governo que estão a lutar contra o novo coronavírus tem aumentado, em Espanha a evolução tem sido diferente, com Sánchez a ser cada vez mais criticado pela gestão da situação.
De acordo com uma sondagem realizada entre 03 e 08 de abril do Instituto Ipsos junto de 2.000 pessoas, 51% dos espanhóis consideram que a gestão da crise do coronavírus pelo primeiro-ministro espanhol é má ou muito má.
As Forças Armadas, que têm tido um papel importante na crise, são a instituição que os inquiridos mais valorizam nesta crise sanitária, enquanto apenas 25% dos inquiridos avaliaram a gestão de Sánchez como boa ou muito boa.
Apesar de criticar duramente o Governo socialista pela forma como tem conduzido o processo de luta contra a covid-19, a principal formação da oposição, o Partido Popular (PP, direita) tem dado o seu apoio ao prolongamento do "estado de emergência", ao contrário do Vox (extrema-direita), o terceiro maior partido representado no parlamento, que não apoiou a segunda renovação de 15 dias do período de exceção.
Espanha é o país com mais mortos com a pandemia por cada milhão de habitantes (386 óbitos), seguida pela Bélgica (359), Itália (338) e França (229), numa lista em que os Estados Unidos têm 71 e Portugal 52.