Moro explica demissão e acusa Bolsonaro de "interferência política"
Ministro demissionário encarou a decisão de trocar a diretoria-geral da Polícia Federal como "uma indicação" de que Jair Bolsonaro não o queria no cargo
© Reuters
Mundo Brasil
Sergio Moro anunciou, esta sexta-feira, em conferência de imprensa, que apresentou a demissão ao cargo de ministro da Justiça, que ocupava desde novembro de 2018, devido a uma "interferência política" da parte de Jair Bolsonaro.
O responsável político demissionário afirmou que a decisão "foi inevitável" depois de o presidente brasileiro retirar Maurício Valeixo da diretoria-geral da Polícia Federal, uma "insistência" que datava já do "segundo semestre do ano passado".
"O presidente passou a insistir na troca do diretor-geral. Eu disse-lhe que precisava de uma causa, como erro grave ou insuficiência de desempenho. Mas o que eu via era um trabalho bem feito", afirmou, citado pelo jornal brasileiro Estadão.
"Não é uma questão do nome. Há outros bons nomes para assumir o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, o grande problema (...) é uma violação da promessa que me foi feita, de carta branca. Não haveria causa e seria uma interferência política na Polícia Federal", prosseguiu.
"Dialoguei muito com o presidente. Procurei adiar as decisões. Pensei que poderia ser alterado, mas percebi que seria um grande equívoco. Ontem, conversei e houve insistência do presidente. Disse-lhe que seria interferência política, e ele disse que seria mesmo", lamentou.
Sergio Moro disse ter considerado o gesto como "ofensivo" e "uma indicação" de que o Jair Bolsonaro o queria "fora do cargo". O ministro demissionário confessou, inclusive, ter sentido "uma grande preocupação" ao constatar que o presidente brasileiro estava consternado "com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal".
"O presidente disse que queria alguém do contacto pessoal dele, para ligar, recolher informações, recolher relatórios de inteligência. Não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de investigação. Imaginem se, na Lava Jato, os ministros e presidentes ligassem ao superintendente em Curitiba para recolher informações", concluiu.
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