Na região mais atingida pela doença, a da capital, Madrid, a agência Lusa constatou que muitas lojas estavam ainda encerradas, com os proprietários ainda a terem de implementar as medidas de segurança impostas para o regresso progressivo à normalidade possível.
"Estamos a recuperar a normalidade e espero que não tenha de se voltar atrás devido a um aumento de casos" disse à Lusa Maria Isabel, enquanto limpava a montra da sua pequena papelaria, que só deve abrir ao público "a meio desta semana".
As lojas que tenham uma área de até 400 metros quadrados podem abrir a partir de hoje desde que os clientes tenham hora marcada para serem atendidos individualmente (um funcionário por cliente) e respeitando uma distância mínima de dois metros.
"Vou precisar de três semanas para servir os clientes habituais que estavam encerrados em casa até agora", disse Leonardo, que tem uma pequena barbearia perto da estação de caminho-de-ferro de Atocha, em Madrid.
O comerciante queixou-se do investimento que teve de fazer em produtos de higiene e assegurou que vai trabalhar mais horas nas próximas semanas para servir os clientes habituais, tendo abdicado da pausa de duas horas para almoçar.
Os estabelecimentos devem ser desinfetados pelo menos duas vezes por dia e ter gel desinfetante e máscaras para os clientes que não as tenham, bem como um horário ou corredor preferencial para os maiores de 65 anos.
Uma loja de roupa ao lado tinha recebido hoje desde as 08:00 apenas "cerca de 20 clientes" divididos por três empregados, quando antes havia oito.
Segundo a dona, Elena, o maior desafio é garantir aos clientes que a roupa não está contaminada: "Temos de desinfetar sempre as peças e o local onde cada pessoa fez uma prova ou mexeu, o que nos faz trabalhar ainda mais para um volume de negócio muito reduzido", disse.
"Muitos lojistas decidiram ficar fechados mais algum tempo, até que se alterem as condições para estarem abertos", afirmou Elena, que não está nada convencida da opção que tomou de abrir logo no primeiro dia em que isso foi possível.
Os restaurantes, pastelarias e cafés também podem abrir uma janela para o exterior onde passam a servir encomendas com hora marcada previamente por telefone ou internet.
Milhões de máscaras foram novamente distribuídas nas estações de metro e de comboios interurbanos, porque a partir de hoje a sua utilização deixa de ser "recomendada" e passa a ser "obrigatória" nos transportes públicos.
Nos altifalantes das estações do centro de Madrid uma mensagem era transmitida vezes sem conta: "o uso de máscaras é obrigatório para todos os utilizadores, tanto no interior das carruagens como nas áreas comuns".
A polícia municipal e outros agentes da proteção civil distribuíam gratuitamente máscaras a todos os passageiros, mesmo àqueles que já as tinham.
A Espanha está na primeira fase de desmantelamento das medidas de luta contra a covid-19 decididas pelo Governo que, desde o fim de semana de 25 de abril, já tinha autorizado a saída à rua dos menores até aos 14 anos e, desde o último sábado, os maiores de 14 anos, para passear e praticar desportos individuais uma vez por dia, respeitando horários e distâncias de segurança.
Apenas quatro ilhas - três do arquipélago das Canárias, no Atlântico, e a de Fomentera, a mais pequena das Ilhas Baleares, no Mediterrâneo -, porque têm poucos casos da pandemia, podem entrar já a partir de hoje na segunda fase da transição, que deverá ser implementada no resto do país daqui a uma semana, na segunda-feira, 11 de maio.
Nestas ilhas são permitidas as reuniões de até 10 pessoas dentro e fora de casa, a abertura de esplanadas a 50% da sua capacidade ou a abertura de pequenas lojas sem marcação prévia, entre outras medidas.
Apesar deste alívio das medidas muito rigorosas impostas com o estado de emergência decretado a partir de 15 de março, as pessoas que o podem fazer vão continuar a trabalhar a partir de casa nas próximas semanas, apenas podendo sair para adquirir produtos essenciais, fazer exercício por faixas horárias ou, a partir de hoje, ir a lojas onde fizeram uma marcação previamente.
A Espanha, que é um dos países mais afetados pela pandemia, registou nas últimas 24 horas 164 mortes, o mesmo número do que no dia anterior, que é o mais baixo das últimas seis semanas, segundo o Ministério da Saúde.
O país é o segundo com mais mortos com a doença por cada milhão de habitantes (544 óbitos), depois da Bélgica (684) e antes da Itália (478), Reino Unido (419) e França (381), numa lista em que os Estados Unidos têm 208 e Portugal 104.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 247 mil mortos e infetou mais de 3,5 milhões de pessoas em 195 países e territórios
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.