Migrações: Regularização de migrantes divide Governo em Itália

A possível regularização de milhares de migrantes em plena pandemia da covid-19 está a suscitar divergências no Governo italiano, com a ministra da Agricultura a ameaçar demitir-se caso a medida, que considera essencial para o setor, não avance.

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Lusa
06/05/2020 13:42 ‧ 06/05/2020 por Lusa

Mundo

Migrações

"Não é uma batalha para o voto, estas pessoas não votam. Se (a regularização) não avançar, vou equacionar a minha permanência no Governo", afirmou Teresa Bellanova, em declarações à emissora pública RAI.

Apesar de admitir que a medida pode ser impopular em Itália, a ministra realçou que os migrantes "são fundamentais para fazer avançar alguns setores" da economia italiana, nomeadamente o setor da agricultura.

Teresa Bellanova afirmou recear que grandes quantidades de frutas e de legumes possam estar a ser desperdiçados na atual época agrícola por causa da falta de mão-de-obra.

Muitos trabalhadores rurais sazonais, a maioria deles oriundos de outros países, estão impossibilitados de entrar em Itália devido ao encerramento das fronteiras decretado por causa da pandemia do novo coronavírus.

Informações divulgadas em Itália nos últimos dias davam conta que o governo italiano estaria a ponderar a regularização de centenas de milhares de migrantes -- cerca de 200 mil -- para tentar suprimir a falta de mão-de-obra em alguns setores e tentar contrariar a desaceleração da atividade económica provocada pela crise da doença covid-19.

Teresa Bellanova propõe atribuir aos migrantes que trabalhem nos campos agrícolas ou prestem serviços domésticos uma autorização de residência temporária em Itália de seis meses.

Essa autorização poderá ser prorrogada por mais seis meses, segundo a proposta da ministra da Agricultura italiana.

"Vamos permitir que pessoas sem autorização de residência em Itália possam trabalhar de forma regular, caso contrário, as empresas vão deixar estragar os produtos", defendeu a ministra.

Este plano está, no entanto, a suscitar divisões no seio do Governo de coligação liderado pelo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.

A favor da regularização, está o Partido Democrata (PD, centro-esquerda), a aliança de esquerda Livres e Iguais (LeU) e a força política Itália Viva (centro-esquerda), a que pertence a ministra da Agricultura.

Já a formação anti-sistema Movimento 5 Estrelas (M5S) tem rejeitado, até à data, uma regularização temporária em massa de migrantes, afirmando acreditar que tal medida não terá repercussões laborais significativas, nomeadamente nos próprios direitos laborais dos trabalhadores migrantes.

A par da ministra da Agricultura, este possível plano está a ser avaliado em conjunto com os titulares das pastas do Interior, a independente Luciana Lamorgese, do Sul, Beppe Provenzano (PD), e do Emprego e Política Social, Nuncia Catalfo (M5S).

Fora da coligação governamental, o possível plano foi imediatamente rejeitado pela oposição de direita.

O líder da Liga Norte (extrema-direita) e ex-ministro Matteo Salvini contestou a ideia, defendendo que um "setor estratégico" como a agricultura não precisa desta regularização em massa, mas sim de "um investimento imediato a fundo perdido".

Itália é um dos países europeus mais afetados pela pandemia do novo coronavírus, registando, até à data, 29.315 mortos e mais de 213 mil casos de infeção.

 

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