Os representantes do centro geriátrico Pio Albergo Trivulzio, localizado em Milão e que registou mais de 300 vítimas mortais associadas à doença covid-19, negaram hoje as acusações de funcionários de que a administração daquela instituição lhes tinha pedido para não usarem máscaras de proteção individual, de forma a não assustarem os utentes.
Segundo os representantes, a instituição seguiu as diretrizes anunciadas então pelas autoridades italianas, que exigiam o uso de máscaras apenas por pessoas que apresentassem sintomas associados ao novo coronavírus.
O centro geriátrico Pio Albergo Trivulzio é uma das várias instituições que está a ser investigada pela justiça italiana por causa das várias centenas de vítimas mortais registadas ao longo da atual pandemia.
As investigações estão sobretudo concentradas na região da Lombardia, no norte de Itália, onde a pandemia levou o sistema de saúde a uma situação de colapso.
Devido à sua dimensão e história, o lar Pio Albergo Trivulzio tem sido um dos casos mais mediáticos e que tem suscitado mais polémica.
As primeiras informações sobre este lar surgiram em abril passado no jornal italiano La Repubblica, que citava uma fonte não identificada com ligações à instituição e sindicatos representativos dos trabalhadores da área da saúde.
Numa conferência de imprensa realizada hoje via Internet, o advogado Vinicio Nardo alegou que o lar Pio Albergo Trivulzio, como outras residências seniores, foi "deixado de fora da distribuição" prioritária de equipamentos de proteção individual conduzida pelo governo, que deu prioridade aos hospitais.
O advogado também questionou se o Ministério Público será capaz de estabelecer um nexo de causalidade entre as mortes e as medidas tomadas pela administração do lar, uma vez que não se sabe, até ao momento, quando e como o vírus entrou naquela instituição.
"Acredito que a instituição será capaz de demonstrar que tomou todas as medidas de prevenção necessárias", afirmou Vinicio Nardo, acrescentando que o lar Pio Albergo Trivulzio só teve acesso a 'kits' de testes de diagnóstico no passado dia 16 de abril.
Na mesma conferência de imprensa, o consultor científico do lar, Fabrizio Pregliasco, lamentou o "triste e doloroso" balanço de mortes, indicando que, segundo algumas estimativas, os lares de idosos na Europa representam cerca de 40% de todas as vítimas da covid-19.
O consultor acrescentou que dos atuais 900 residentes do lar, 34% são positivos.
Também indicou que 8,6% dos funcionários do lar também foram diagnosticados com covid-19 e que 11% terão desenvolvido anticorpos segundo os resultados de exames de sangue.
Familiares de alguns dos utentes do lar Pio Albergo Trivulzio formaram, entretanto, um comité, com o objetivo de reunir provas para entregar ao Ministério Público italiano.
Este comité também exige que o governo italiano nomeie um representante para administrar este centro geriátrico enquanto decorre a investigação criminal.
A Itália é um dos países europeus mais afetados pela pandemia do novo coronavírus, registando, até à data, 29.684 mortos e mais de 214 mil casos de infeção.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias France Presse (AFP), a pandemia de covid-19 já provocou mais de 257 mil mortos e infetou quase 3,7 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um 1,1 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.