Segundo o superior geral da Irmãos da Caridade, René Stockman, que se opõe firmemente à eutanásia, a decisão do Vaticano surgiu após três meses de negociações entre as duas partes, depois de quatro irmãos da congregação terem defendido a prática nos hospitais psiquiátricos, geridos por uma fundação.
"Tive conversas durante três meses com esses religiosos (os quatro irmãos da congregação) e múltiplas reuniões no Vaticano", explicou Stockman à agência France-Presse (AFP), que vive em Roma e que exerceu medicina durante 20 anos naqueles estabelecimentos psiquiátricos belgas.
"Devemos ajudar os doentes na psiquiatria e não recorrer à eutanásia", acrescentou.
A Bélgica despenalizou a eutanásia em 2002 para os idosos e, em 2014, estendeu a lei aos menores em 2014, deixando de pesar o fator do limite de idade.
Na primavera de 2017, o Conselho de Administração dos 15 hospitais psiquiátricos da congregação aprovou um novo regulamento que permite aos médicos praticar a eutanásia, considerando-a como um "ato médico".
Os religiosos do conselho de administração, essencialmente composto por laicos, não tomaram na altura qualquer posição.
A congregação religiosa, fundada em 1807 em Gand, 55 quilómetros a noroeste de Bruxelas, está atualmente presente em cerca de três dezenas de países.
Após a decisão do Vaticano, a congregação vai dissociar o seu nome dos hospitais psiquiátricos belgas para que possa pedir a demissão dos quatro irmãos que não respeitaram a linha oficial da Igreja, sublinhou Stockman.
Numa carta datada de 30 de março passado, a Congregação para a Doutrina da Fé, encarregada de fazer respeitar o dogma do Vaticano, precisou que a eutanásia "é um ato inadmissível, mesmo em casos extremos".
Nesse sentido, concluiu que os hospitais psiquiátricos geridos pelos Irmãos da Caridade "não podem ser considerados como entidades católicas".
Na Bélgica, a congregação dos Irmãos da Caridade, que engloba também escolas e centros para deficientes, tem a seu cargo cerca de 5.000 pessoas e conta com a ajuda de 13.000 colaboradores laicos.
Os Irmãos belgas, maioritariamente idosos e já reformados, estão cada vez menos presentes nos hospitais.