Apesar de a Argentina registar 11.353 casos e 445 mortes, o presidente Alberto Fernández anunciou que o isolamento social obrigatório vai até o dia 7 de junho, levando a Argentina, ao lado de Nova Iorque, a ter a mais prolongada quarentena do mundo. Iniciada em 20 de março, o confinamento argentino terá, por enquanto, 80 dias de duração, acima de França, Itália ou Espanha.
A decisão também vai no sentido contrário da flexibilização adotada por países da região que, assim como a Argentina, têm baixo índice de casos e de mortes, como Colômbia, Paraguai e Uruguai.
Mas, enquanto o interior do Argentina manterá uma flexibilidade das atividades que, segundo o Presidente argentino, permite que a economia dessas províncias tenha recuperado mais de 80% da sua capacidade, a parte mais rica e motor económico do país, terá um endurecimento das restrições.
"Nos últimos 14 dias, do total de casos confirmados, 87,5% foram na área metropolitana de Buenos Aires. Isso mostra o grau de concentração do problema que temos nessa zona", explicou Alberto Fernández.
A área metropolitana de Buenos Aires, que tinha experimentado uma ligeira flexibilização, há duas semanas, passará agora por rígidos controlos da circulação em transporte público e no recuo da incipiente reabertura de comércios.
O atual movimento nos transportes públicos representa 25% do habitual registado anteriormente à quarentena. Mesmo assim, para evitar um aumento dos contágios, somente os trabalhadores de atividades consideradas essenciais poderão usar autocarros, comboios e metro. Também haverá maior rigidez nas autorizações das permissões de circulação para carros particulares.
O foco de preocupação do Governo é com os bairros mais pobres de Buenos Aires, onde o vírus começou a ser detectado há duas semanas. Desde então, foram registados 2.116 casos. Mais da metade das pessoas testadas diariamente tem resultado positivo.
"Nos últimos 15 dias, vimos que vírus entrou nos bairros populares, onde a densidade demográfica é mais alta, aumentando a velocidade de contágio. Agora é abordar o problema onde está. Vamos concentrar esforços nesses bairros populares onde há muita gente em pouco espaço", apontou o Presidente.
A América do Sul, novo epicentro do coronavírus no mundo, segundo a OMS, divide-se hoje entre países onde o contágio e as mortes aumentam vertiginosamente como Brasil, Peru, Equador, Chile e Bolívia, e aqueles países que conseguiram conter o avanço da doença como Uruguai, Paraguai, Colômbia, e Argentina.
Mesmo com a Argentina no segundo grupo, Alberto Fernández preferiu comparar o país ao primeiro para justificar uma nova extensão da quarentena. A estratégia de comparar o mau desempenho do Brasil e do Chile para exaltar o bom desempenho argentino já lhe valeu respostas dos governos vizinhos.
Comerciantes, empresários, economistas e a oposição têm acusado o Presidente argentino de promover a mais extensa quarentena do mundo e de destruir a economia em vez de administrar uma flexibilização paulatina, a exemplo dos países europeus.
"Na Europa e nos Estados Unidos, não existem esses bairros populares como na América Latina", justificou.