Guterres? "Não fez" tudo para evitar guerra, mas mostrou "influência"

O analista Richard Gowan, do International Crisis Group, considera que o secretário-geral da ONU, António Guterres, "não fez todos os esforços que podia para evitar a guerra" na Ucrânia, mas, posteriormente, conseguiu demonstrar "alguma influência e criatividade" práticas.

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Lusa
23/02/2025 09:45 ‧ há 5 horas por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

Em entrevista à Lusa, Gowan, um especialista no sistema das Nações Unidas (ONU), Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz, refletiu sobre as funções da ONU ao longo destes quase três anos de conflito, destacando o papel de Guterres no Acordo dos Cereais do Mar Negro, que acabou extinto, mas que foi responsável pelo fluxo de alimentos, cereais e fertilizantes ucranianos e russos para os países em desenvolvimento, de forma a travar a crescente insegurança alimentar num período crítico da guerra.

 

"Guterres não acreditava que a Rússia iria realmente atacar a Ucrânia em 2022. Como resultado, não fez todos os esforços que podia para evitar a guerra. Mas, assim que encontrou o seu equilíbrio, demonstrou alguma influência e criatividade reais ao ajudar a mediar o Acordo dos Cereais do Mar Negro", observou Gowan.

"Infelizmente, o acordo do Mar Negro falhou ao fim de um ano, e Guterres parece um pouco perdido desde então", avaliou ainda.

O analista indicou que o ex-primeiro-ministro português tentou elaborar um novo acordo no Mar Negro, mas sem sucesso.

Além disso, Guterres "nunca pareceu acreditar que tinha um papel a desempenhar como pacificador na guerra", afirmou ainda Gowan, que é diretor do departamento da ONU no International Crisis Group, uma organização não-governamental voltada para a resolução e prevenção de conflitos armados internacionais.

 "Acho que Guterres pode apenas estar a ser realista. Nem Moscovo nem Kiev o incentivaram a desempenhar um papel político maior, e tem andado distraído com Gaza", afirmou o especialista.

Questionado sobre qual foi a maior conquista da ONU em relação à guerra na Ucrânia, Gowan não tem dúvidas em apontar precisamente o Acordo dos Cereais do Mar Negro, uma vez que representou um passo importante para reduzir o impacto económico global da guerra em 2022.

"Pode ter sido temporário, mas foi genuinamente positivo quer para a economia da Ucrânia, quer para o fornecimento global de alimentos", reforçou.

O acordo em causa, assinado em julho de 2022 entre as Nações Unidas, Ucrânia, Rússia e Turquia, ajudou a limitar a grave crise alimentar mundial provocada pela invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.

Após o seu terceiro mandato, o acordo acabou por não ser renovado, tendo expirado em 17 de julho de 2023, depois de ter permitido exportar milhões de toneladas de cereais a partir de portos ucranianos.

De um modo mais geral, Richard Gowan considera que também as agências humanitárias da ONU desempenharam um papel importante neste conflito ao ajudarem os civis ucranianos durante a guerra, "embora isso nunca tenha recebido muita publicidade".

"Os ucranianos não querem ser vistos a pedir ajuda à ONU, pois isso faria com que parecessem fracos", disse à Lusa.

Pelo menos 12.654 civis foram mortos na guerra na Ucrânia desde fevereiro de 2022, 673 deles crianças, enquanto o número de feridos chega a 29.392, informou a ONU na segunda-feira, uma semana antes do terceiro aniversário do conflito.

Embora os cidadãos com mais de 60 anos serem apenas 25% da população, representaram por outro lado quase metade das mortes de civis e mais de um terço dos feridos na linha de frente em 2024.

O relatório denuncia ainda ataques "deliberados, repetidos e sistemáticos" contra infraestruturas energéticas, de saúde (790 ataques deste tipo) e educacionais (1.670).

Leia Também: Putin saúda soldados russos e reafirma vontade de reforçar o exército

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