Ucrânia: Principais indicadores em três anos de invasão russa

Quase três anos após o início da invasão da Ucrânia, a Rússia controla pouco menos de 20% do território ucraniano, ou cerca de 110 mil quilómetros quadrados, segundo mapas do conflito reproduzidos por várias organizações e imprensa internacional.

Notícia

© GENYA SAVILOV/AFP via Getty Images

Lusa
22/02/2025 17:09 ‧ há 6 horas por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

Entre estes territórios, incluem-se as províncias de Donetsk e Lugansk, no leste, e Zaporijia e Kherson, no sul, que, apesar de anexadas por Moscovo, estão apenas parcialmente ocupadas e permanecem como frentes de combate abertas, somando-se à península ucraniana da Crimeia, ilegalmente anexada desde 2014.

 

A Ucrânia por seu lado invadiu em agosto passado a província fronteiriça de Kursk, no oeste da Rússia, onde chegou a ocupar cerca de mil quilómetros de quadrados de território, segundo as autoridades militares de Kyiv, mas esse número deverá ser atualmente menos de metade.

Em vésperas do terceiro aniversário da invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, e num momento em que aumenta a pressão sobre as partes para negociações de paz, eis alguns dos dados essenciais do conflito:

 Baixas militares ucranianas

No final do ano e numa rara declaração, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, indicou que, desde o início da invasão, o seu país registou 43 mil militares mortos em combate e mais de 370 mil feridos, números abaixo das estimativas de várias entidades, embora a realidade seja inverificável em ambos os lados do conflito.

A partir de cálculos em relatórios de serviços de informação, autoridades de defesa e investigadores, a revista britânica The Economist revelou em novembro passado que entre 60 mil e cem mil soldados ucranianos foram mortos e mais de 400 mil ficaram feridos, o que significa uma baixa em cada 20 homens em idade militar.

Estes dados estão em linha com um cálculo semelhante divulgado em setembro pelo Wall Street Journal, que noticiou 80 mil militares ucranianos mortos e 400 mil feridos.

Baixas militares russas

De acordo com as autoridades militares ucranianas, até 06 de fevereiro, a Rússia tinha sofrido 845.310 baixas desde o começo do conflito.

Anteriormente, no final do ano, Zelensky tinha assinalado 198 mil mortos do total de baixas da Rússia, que não divulga as suas estatísticas.

Uma estimativa do Pentágono, divulgada em outubro, apontava para um número de baixas russas de cerca de 600 mil e, em novembro, as autoridades britânicas elevaram o total para 700 mil, das quais 42 mil apenas no mês anterior.

O 'site' independente Mediazon, em colaboração com o serviço russo da BBC na Rússia, mantém uma atualização do número de militares de Moscovo, a partir de uma lista compilada em fontes verificáveis e disponíveis publicamente.

Os dados indicam 93.641 nomes de militares russos mortos até 14 de fevereiro. Esta iniciativa oferece também uma estimativa, com base no excesso de mortalidade entre os homens, que calcula o total de mortes em cerca de 120 mil.

 Impacto nos civis ucranianos

O número de vítimas civis da guerra na Ucrânia foi 30% mais elevado em 2024 do que no ano anterior, um "aumento alarmante" divulgado em meados de janeiro pela ONU, que alertou para uma subida "particularmente angustiante" entre crianças.

Números partilhados na mesma altura pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos indicavam que pelo menos 12.456 civis, incluindo 669 crianças, foram mortos desde o começo do conflito.

Além disso, 28.382 civis, entre os quais 1.833 menores, ficaram feridos, mas os números reais deverão ser "consideravelmente maiores", já que apenas são contabilizados os casos verificados.

No seu último relatório, a entidade da ONU registava também mais de 700 instalações médicas e 1.500 escolas e faculdades danificadas ou destruídas até 30 de novembro do ano passado. A contabilidade das autoridades ucranianas destaca que, no total, mais de 167 mil edifícios foram destruídos.

A invasão russa provocou ainda 6,8 milhões de refugiados ucranianos, dos quais mais de 6,3 milhões na Europa, revelam os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e 3,7 milhões de deslocados no país, de acordo com a Organização Internacional das Migrações.

Por outro lado, os ataques aéreos russos visam desde o início do conflito infraestruturas vitais para a sobrevivência do país, desde logo a energética.

"Em 2022-2023, o sistema energético da Ucrânia perdeu cerca de 21 gigawatts (GW) de capacidade", dos 47 GW anteriores à guerra, assinalou Oksana Zueva, especialista do 'think tank' Dixi Group, sediado na capital ucraniana, citada pelo jornal Kyiv Independent.

 Impacto nos civis russos

Em janeiro passado, Rodion Miroshnik, embaixador itinerante do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, afirmou que mais de 2.200 civis do seu país foram mortos ou feridos em ataques ucranianos com recurso a munições de fabrico ocidental ao longo de 2024.

"Formações armadas ucranianas lançaram pelo menos 87.885 munições contra instalações civis russas. Mais de 40% dos civis afetados, ou mais de 2.200 pessoas, foram mortos ou feridos com estilhaços de munições feitas nos Estados Unidos, Alemanha ou Coreia do Sul e financiadas com dinheiro de contribuintes de 18 países ocidentais", relatou o diplomata citado pela agência Tass.

No ano passado, disse ainda, os ataques com drones afetaram pelo menos 1.481 civis, dos quais 210, incluindo 11 crianças, foram mortos.

Dados recolhidos pelo órgão 7X7 Horizontal Russia, crítico da guerra na Ucrânia, aponta, pelo seu lado, para 394 mortos civis desde o começo da guerra até ao final de 2024, sobretudo nas regiões oeste do país, junto da fronteira ucraniana, como Kursk ou Belgorod, mas também na região de Moscovo.

Os números foram obtidos, segundo a publicação, através de líderes das regiões russas e análise de meios de comunicação locais e federais, publicações e comentários de familiares dos falecidos nas redes sociais.

Em agosto de 2024, o estado de emergência foi declarado em Belgorod e Kursk, onde as forças ucranianas iniciaram nesse mês uma incursão militar, levando à retirada de dezenas de milhares de pessoas.

 Perdas de equipamento militar 

De acordo com o Oryx, um projeto neerlandês de análise de defesa e de investigação de guerra, a Rússia perdeu pelo menos 20.248 unidades de equipamento militar desde o início da invasão da Ucrânia até 08 de fevereiro, entre aeronaves, veículos blindados, sistemas de artilharia, de defesa aérea e de lançamento múltiplo de 'rockets, a maioria das quais (15.262) foram destruídas e as restantes danificadas, abandonadas ou capturadas.

Do total desta base de dados, atualizada exclusivamente com provas fotográfica ou em vídeo, destacam-se perdas de 3.737 tanques e de 286 aeronaves, incluindo aviões de combate, bombardeiros estratégicos, helicópteros ou drones de ataque.

A juntar a estes números, no ano passado as autoridades militares ucranianas reclamaram, por outro lado, a destruição de um terço da frota russa do Mar Negro.

Do lado ucraniano, as perdas reunidas pelo projeto Oryx são menores, mas também elevadas, com uma soma de 7.755 unidades de equipamento militar, das quais 5.595 foram destruídas.

Entre numerosas baixas de equipamento, as forças de Kiev perderam 3.877 veículos blindados de combate, que abrangem 50 tanques alemães Leopard, 19 norte-americanos Abrams e dois britânicos Challenger.

Além disso, foram ainda perdidas pelo menos 173 aeronaves, uma delas um caça norte-americano F-16.

O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) do Reino Unido assinalou no seu balanço militar de 2024, divulgado em 12 de fevereiro, que a Ucrânia sofreu uma redução mais acentuada de soldados do que a Rússia.

O IISS referiu que as forças de Moscovo tem usufruído das reservas de material do tempo da Guerra Fria, do envio de 10 mil militares por parte Coreia do Norte e da produção de drones e mísseis pelo Irão.

Embora Kyiv tenha recebido equipamento militar mais avançado, as quantidades são insuficientes e com regras rígidas de utilização determinadas pelos aliados ocidentais.

Apoio à Ucrânia 

Dados atualizados em 14 de fevereiro pelo Instituto Kiel, que monitoriza toda a ajuda pública de 41 aliados da Ucrânia, revelam que cerca de 267 mil milhões de euros foram alocados nos últimos três anos, dos quais 49% correspondem a assistência militar, 44% a apoio financeiro e 7% a ajuda humanitária.

os países europeus, no seu conjunto, são os principais aliados de Kiev, com um total de 132,3 mil milhões de euros em ajuda financeira, militar e humanitária desde o começo da guerra.

No entanto, os Estados Unidos são de longe o maior contribuinte bilateral, somando àquela data 114,2 mil milhões de ajuda (dos quais 61 mil milhões são apoio militar), muito à frente da Alemanha, com um total de 17,2 mil milhões e do Reino Unido com 14,8 mil milhões.

Quando analisados os apoios em função do PIB (Produto Interno Bruto), os dados do instituto alemão realçam os países próximos do conflito, desde logo a Estónia e a Dinamarca (ambos com 2,2%), a Lituânia (1,8%), numa lista encabeçada pelos estados bálticos e nórdicos, incluindo a Suécia e Finlândia, recém-membros da NATO, mas também Polónia e Países Baixos.

Os Estados Unidos representam o parceiro número um da Ucrânia em termos de transferências totais em todos os parâmetros, mas este apoio pode estar comprometido com o regresso de Donald Trump à Casa Branca.

Crítico da ajuda norte-americana a Kyiv, Trump já suspendeu os financiamentos globais da agência estatal de desenvolvimento USAID.

Segundo o Instituto Kiel, os Estados Unidos transferiram 3,4 mil milhões de euros em ajuda humanitária para a Ucrânia desde o começo do conflito.

Apoio à Rússia

Os dados relativos à Rússia são pouco claros, na medida em que os principais parceiros de Moscovo não aplicam as mesmas regras de transparência dos aliados de Kiev.

O Irão é um desses aliados, dotando a Rússia de equipamento militar, em concreto os seus drones Shahed, bem como a Bielorrússia, que forneceu o seu território para o lançamento da invasão da Ucrânia e instalação de mísseis nucleares táticos russos. Mas o aliado mais assumido no campo de batalha é a Coreia do Norte.

No âmbito de uma parceria estratégica com a Rússia e a troco de alimentos e cooperação tecnológica e financeira, e ainda de proteção militar mútua, Pyongyang forneceu a Moscovo pelo menos 13 mil contentores de munições de artilharia, 'rockets' e mísseis, segundo o serviço de informações de Seul (NIS), como forma de ambos os países contornarem o isolamento internacional e as sanções ocidentais.

Depois disso, desde novembro, o regime de Kim Jong-Un destacou acima de dez mil militares para lutar ao lado das tropas russas na província russa de Kursk, parcialmente ocupada pela Ucrânia, com o registo de 3.000 mortos ou feridos até 06 de fevereiro, de acordo com o NIS, e mais de quatro mil segundo o Presidente ucraniano.

Apesar de não apoiar militarmente a Rússia, a China é acusada pelas potências ocidentais de alimentar a máquina de guerra do Kremlin, através da venda de componentes para a sua indústria de defesa, e a sua economia por via do comércio e mesmo acontece em relação a outro gigante global, a Índia.

As sanções ocidentais não tiveram impacto imediato na economia russa, que viu as suas exportações de combustíveis fósseis para a Europa caírem a pique, para cerca de metade em valores monetários em comparação com os níveis pré-invasão, embora continue a ser um dos principais clientes, segundo o projeto Rússia Fóssil Tracker.

Em quase três anos de guerra, a China surge como o principal cliente de combustíveis fósseis da Rússia, com cerca de 165 mil milhões de euros em importações, bastante à frente da Índia (98 mil milhões), da Turquia (68 mil milhões) e dos países da União Europeia (55 mil milhões), indicam os dados do projeto da CREA (Centre for Research on Energy and Clean Air), uma instituição de investigação sediada na Finlândia.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, sugeriu que a guerra acabaria de imediato se a Arábia Saudita e a OPEP baixassem o preço do petróleo. O seu enviado para a Ucrânia e Rússia, Keith Kellogg foi mais concreto ao fixar um valor de 45 dólares por barril.

Os Estados Unidos e os seus aliados tinham imposto um teto de 60 dólares por barril para o petróleo da Rússia. Mas Moscovo conseguiu manter um fluxo constante de receitas através dos seus fiéis compradores, que aproveitaram os preços russos com desconto, e China e Índia até aumentaram o comércio com Moscovo desde a invasão.

No entanto, no início do ano, analistas alertaram que as empresas chinesas e indianas poderão vir a fazer as suas compras noutros mercados, após uma vaga de sanções em grande escala de Washington a empresas russas e 183 petroleiros controlados pela Rússia e a sua chamada "frota fantasma", bem como da União Europeia contra 52 navios.

A Rússia enfrenta mais de 20 mil sanções de países ocidentais, dirigidas a instituições, empresas, indivíduos e entidades promotoras de desinformação, o que a torna no país mais sancionado do mundo.

Crimes de guerra e prisioneiros 

As autoridades ucranianas tinham registado até janeiro passado cerca de 147 mil crimes de guerra desde o início da invasão russa.

De acordo com a organização Human Rights Watch (HRW), em novembro último, estavam também sob investigação criminal 53 casos de execuções de 177 prisioneiros de guerra desde 2022.

As Nações Unidas, citadas pela HRW, documentaram por seu lado a eliminação de 34 soldados ucranianos fora de combate entre dezembro de 2023 e agosto de 2024, somando-se a atos de tortura relatados por 80% dos ex-prisioneiros de guerra e condenações por crimes de extremismo e terrorismo, com penas de 12 anos a prisão perpétua, de 120 militares por tribunais russos só no último ano, em violação das leis internacionais.

O uso de tortura contra prisioneiros de guerra russos por forças ucranianas também é assinalado pelas Nações Unidas, sobretudo em estágios iniciais de cativeiro antes de serem encaminhados para centros de detenção oficiais, embora ressalvando que as autoridades de Kiev relataram a abertura de investigações a esses casos.

Desde 2022 até novembro, foram registadas 59 trocas de prisioneiros entre a Ucrânia e a Rússia, envolvendo o retorno de 3.956 militares e civis.

Em paralelo, pelo menos 20 mil crianças ucranianas foram deportadas ilegalmente para territórios ocupados ou para a própria Rússia, segundo um banco de dados nacional da Ucrânia citado pela imprensa de Kiev, das quais 388 foram resgatadas até ao início do último mês, de acordo com o Governo.

A deportação de menores ucranianos levou o Tribunal Penal Internacional (TPI) a emitir mandados de detenção para o Presidente russo, Vladimir Putin, e para a comissária para os Direitos da Criança, Maria Lvova-Belova.

O TPI acusa também o antigo ministro da Defesa russo Sergei Shoigu e o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Valery Gerasimov, de crimes de guerra e contra a humanidade.

Leia Também: Pedro Sánchez pede "paz justa e duradoura" para a Ucrânia

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas