OMS suspende temporariamente ensaios clínicos com hidroxicloroquina

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou hoje a suspensão temporária dos ensaios clínicos com hidroxicloroquina para combater a covid-19 por causa de estudos científicos que associam maior mortalidade ao uso daquele medicamento.

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Lusa com Notícias ao Minuto
25/05/2020 18:33 ‧ 25/05/2020 por Lusa com Notícias ao Minuto

Mundo

Covid-19

O diretor-geral da OMS afirmou que a decisão do Comité Executivo da organização surge depois de na semana passada a revista científica The Lancet ter divulgado um estudo em que se observou mortalidade acrescida em doentes tratados com aquele medicamento.

Tedros Ghebreyesus destacou que o resto dos testes clínicos solidários com outras terapias vão continuar em mais de 400 hospitais em 35 países, que contam com 3.500 voluntários.

Na habitual conferência de imprensa de acompanhamento da pandemia, a cientista sénior da OMS Soumya Swaminathan declarou que "há muito poucos estudos randomizados e é importante recolher informação sobre a segurança e eficácia" da hidroxicloroquina como terapia para a covid-19, uma vez que é usada principalmente para tratar a malária.

"Os dados dos estudos observacionais [como o do Lancet] podem ser enviesados. Queremos usar [a hidroxicloroquina se for segura e eficaz, se reduzir a mortalidade e os internamentos e se os benefícios forem mais do que os danos", afirmou.

Tedros Ghebreyesus afirmou que os organismos de vigilância e segurança da OMS vão voltar a reunir-se brevemente, na próxima semana, para reavaliar a decisão.

Possível "segunda vaga" não tem data marcada 

Também presente na conferência esteve o diretor-executivo do programa de Emergências Sanitárias da organização, Michael Ryan, que reforçou ser preciso "estar ciente de que a doença pode disparar a qualquer altura".

"Não podemos supor [que os números de novas infeções] vão continuar a descer e que teremos alguns meses para nos preparar para uma segunda vaga. Pode acontecer um segundo pico na atual, como aconteceu em outras pandemias, como da gripe pneumónica", afirmou, no mesmo dia em que diretora do departamento de Saúde Pública da Organização Mundial de Saúde (OMS), Maria Neira, disse numa entrevista à rádio catalã RAC-1 que os modelos de previsão em que a OMS está a trabalhar "avançam muitas possibilidades, desde novos surtos pontuais a uma nova vaga importante, mas esta última possibilidade é cada vez mais de descartar".

"Estamos muito mais bem preparados em todos os sentidos", afirmou a médica espanhola, sublinhando que se "baixou tanto a taxa de transmissão que o vírus terá dificuldade em sobreviver". É preciso, porém, "ter muita prudência em afirmar se este é o fim da vaga, mas, pelo menos, os dados mostram que se evitou a transmissão e explosão das primeiras semanas. (...) Vale a pena não fazer muitas previsões porque as próximas semanas serão uma fase muito crítica".

A esta informação, a principal responsável técnica no combate à Covid-19, Maria Van Kerkhove, acrescentou que os estudos de seroprevalência já efetuados são poucos - só dois publicados e cerca de 20 em pré-publicação - mostram que "uma grande parte da população continua suscetível" ao novo coronavírus.

"Se encontrar uma oportunidade, este vírus provocará surtos. Uma característica única deste coronavírus é a capacidade de se amplificar em certos ambientes fechados, com uma super-propagação, como temos visto em lares de idosos ou hospitais", sustentou.

O que se ganhou entretanto foram "as ferramentas para suprimir o contágio", referiu, indicando que para já, não é claro que um ressurgimento de casos em países que conseguiram reduzir o número de novas infeções esteja dependente do clima ou da temperatura.

Michael Ryan salientou que "seria preocupante crer que [a contenção do contágio] ocorreu naturalmente" e indicou que foram as medidas de contenção aplicadas pelos governos que o conseguiram, restringindo movimentos de populações, impondo confinamentos e aconselhando medidas de distanciamento físico entre as pessoas.

No dia em que se celebra o 53.º aniversário da criação da Organização para a Unidade Africana - hoje União Africana -, o diretor-geral da OMSTedros Ghebreyesus, assinalou que África é o continente com menos casos e menos mortes em relação ao resto do mundo - com 1,5 % dos casos globais e 0,1 % das mortes globais, mas ressalvou que a capacidade de testagem ainda não está ao nível do resto do mundo e os números "não dão o retrato completo" da pandemia no continente africano.

diretor do Centro de Vacinação do Mali, Samba Sow, foi mais longe e afirmou que "a falta de testes pode estar a esconder uma epidemia silenciosa", assinalando que os sistemas de saúde nos países africanos são "fracos e podem ser assoberbados".

Defendeu que além da solidariedade entre países africanos, é precisa "comunicação" e dados fiáveis gerados localmente.

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