O programa foi apresentado numa vídeo-conferência de imprensa conjunta a partir de Paris e Tóquio, liderada pelo presidente da Renault e da aliança, Jean-Dominique Senard.
O objetivo deste plano de médio prazo é procurar sinergias para superar a grave crise do setor devido à contração da procura de automóveis devido ao impacto da pandemia da covid-19.
"Ainda temos muitos desafios pela frente, mas hoje estamos preparados", disse Senard, que estava acompanhado na mesma mesa por outros diretores da Renault e remotamente com representantes da Nissan e da Mitsubishi.
O programa procura partilhar as plataformas de produção e de pós-venda com um esquema de líder-seguidor em termos de modelos para melhorar a eficácia e a competitividade de produtos e tecnologia, princípios que prevalecerão sobre os volumes de produção.
Esta estrutura permitirá economias de até 40% em investimentos em modelos apoiados neste esquema de convergência e implicará que as três empresas terão livre acesso à tecnologia desenvolvida individualmente.
O programa estabelece que o mundo será dividido a partir das áreas de influência já existentes entre as três empresas, que se tornarão "regiões de referência" e que servirão para melhorar a competitividade.
A Renault, que mantém 43,3% do capital da Nissan, será a referência para a Europa, Rússia, América do Sul e Norte da África, a Nissan será na China, América do Norte e Japão, e a Mitsubishi (controlada pela Nissan) ficará encarregada do sudeste da Ásia e pela Oceânia.
Além de um exemplo dado, o do Brasil, onde duas plataformas da Renault e duas da Nissan serão combinarão numa única, não foram dados pormenores sobre como será essa convergência noutros lugares.
Espera-se que, no caso da Nissan, o grupo japonês divulgue na quinta-feira o seu próprio programa de médio prazo e esclareça se, como asseguram media japoneses, pretende fechar a sua fábrica em Barcelona para que a sua produção possa ser transferida para fábricas da Renault.
Segundo Senard, o modelo de convergência tem vindo a formar-se em conversações realizadas nas últimas sete semanas para enfrentar "uma crise sem precedentes" no setor automóvel.
Como se trata de um programa de médio prazo, não haverá impacto imediato porque, como sublinhou Senard, "não se pode mudar a situação em poucos meses", embora tenha acrescentado que as maiores medidas de poupança começarão a aparecer em 2022.
"Esta aliança é forte e está-se a tornar ainda mais forte", insistiu Senard, respondendo a uma pergunta sobre se é possível expandir para outras empresas no futuro. Senard acrescentou que nas próximas semanas haverá "algumas notícias".
A aliança entre a Renault e a Nissan, à qual mais tarde se juntou a Mitsubishi quando passou a ser controlada pela Nissan, foi forjada há 21 anos com Carlos Ghosn como um dos principais arquitetos.
Ghosn caiu em desgraça depois de ter sido preso em Tóquio em 19 de novembro de 2018, por alegadas irregularidades financeiras, e agora é um fugitivo da justiça japonesa em Beirute.
A substituição de Ghosn no comando das três empresas provocou desconforto na aliança, porque, segundo a Nissan, Ghosn tinha acumulado muito poder.
Mas, com o tempo, parece que as suspeitas e os momentos mais rápidos foram ultrapassados, e a pandemia da covid-19 obrigou as empresas a procurarem sinergias mútuas de uma aliança que parecia ter entrado também em crise.
O presidente da Mitsubishi, Makoto Uchida, lembrou que, devido à covid-19 a sociedade e a mobilidade globais, estão a mudar, bem como as preocupações ambientais, e portanto, "claro, a aliança terá que mudar".
Senard aproveitou a oportunidade para insistir que não há planos para uma fusão entre a Renault e a Nissan, uma opção conjeturada meses após a prisão de Ghosn.
"Não precisamos de uma fusão para sermos eficientes, para partilhar as nossas capacidades e tirar o melhor partido desta organização", disse o presidente da Renault.
"Nos próximos anos, seremos muito mais eficientes e criaremos um novo modelo", acrescentou.