"A emergência da covid-19 destaca a insuficiência das estruturas que regem as relações económicas e administrativas entre Israel e Palestina", alegou um relatório do gabinete do enviado especial para o Médio Oriente, Nickolay Mladenov, que valorizou positivamente a cooperação que houve entre as duas partes para fazer frente à pandemia.
No entanto, lamentou que a crise sanitária evidenciou a "deterioração prolongada" dos seus relacionamentos -- muito evidente no âmbito político.
Além disso, alertou que a "situação de paz e segurança vai piorar" se a tendência atual continuar dando lugar a "políticas mais extremistas de ambos os lados" que poderiam prejudicar "os feitos do Governo palestiniano" nos últimos 25 anos.
A anexação de parte do território palestiniano da Cisjordânia que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, quer ativar a partir de julho, ou a quebra de acordos bilaterais com Israel por parte da Autoridade Nacional Palestina (ANP) -- anunciada recentemente em protesto com a anexação --, são dois elementos suscetíveis de aumentar a tensão nos territórios palestinianos, segundo a ONU.
Isso poderia mudar "drasticamente a dinâmica local" e "desencadear conflitos e instabilidade" na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Perante isso, Mladenov pediu esforços "a todas as partes" para "preservar a perspetiva de uma resolução negociada de dois Estados", em linha com o direito internacional, para evitar uma escalada maior.
O relatório, que vai ser apresentado na terça-feira, na reunião semestral do Comité de Ligação Ad Hoc -- que inclui países e doadores a favor da Palestina --, alerta também sobre a fragilidade do sistema de saúde palestiniano diante da pandemia, o que pode ter efeitos severos sobre Gaza, já severamente castigada pelo largo bloqueio israelita, vigente desde 2007.
Diante disso, a ONU considera que a ANP "precisa de uma maior ajuda financeira e de desenvolvimento para abordar as necessidades de saúde pública, proporcionar serviços essenciais" e responder ao impacto socioeconómico da covid-19, que segundo os analistas e autoridades, vai provocar um duro golpe na já frágil economia da Cisjordânia.
Até agora, o impacto do vírus em Israel e nos territórios palestinianos tem sido moderado.
A região passou pela fase mais crítica e a maioria das restrições que paralisavam os movimentos e a vida quotidiana já foram levantadas, mas as autoridades mantêm o alerta em todos os lugares, perante um possível surto de contágio.
Israel sofreu 284 mortes pela pandemia, que infetou pouco mais de 17.000 pessoas, enquanto a Palestina registou 627 infetados e cinco mortes.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 369 mil mortos e infetou mais de seis milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 2,5 milhões de doentes foram considerados curados.