"É um vírus microscópico e pôs-nos de joelhos". Guterres pede união

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) esteve esta segunda-feira em entrevista na RTP, onde comentou a resposta gobal dos vários países face à pandemia do novo coronavírus e alertou que um mundo dividido entre China e EUA será "muito perigoso".

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Anabela Sousa Dantas com Lusa
08/06/2020 22:24 ‧ 08/06/2020 por Anabela Sousa Dantas com Lusa

Mundo

António Guterres

António Guterres acredita que "a grande conclusão" que se deve tirar desta pandemia do novo coronavírus é "a enorme fragilidade do nosso mundo, a enorme fragilidade das nossas sociedades, do planeta". "Trata-se de um vírus microscópico e esse vírus pôs-nos de joelhos", disse esta segunda-feira o secretário-geral da ONU, em entrevista à antena da RTP.

O antigo primeiro-ministro, que tem sido uma das vozes mais sonantes no apelo à união dos estados no combate à pandemia da Covid-19, fruto das próprias exigências do cargo, aponta a doença viral como uma das várias fragilidades que ameaçam as populações, como as alterações climáticas, a não proliferação nuclear ou a desregulação do ciberespaço.

"Somos um mundo muito frágil e  isso devia levar-nos a uma grande humildade e com essa humildade a uma grande unidade e grande solidariedade", disse. "O que é dramático é quando olhamos para a Covid-19 essa unidade falhou", acrescentou, relembrando que "cada estado desenvolveu a sua estratégia própria", muitas vezes ao arrepio das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

"O resultado está à vista", lamenta o antigo líder do PS, refletindo sobre uma "pandemia que se move de país para país, que pode ter segundas vagas" e apontando uma grande descoordenação a nível global.

"E a solidariedade também não tem sido muita. É verdade que os países mais desenvolvidos têm apresentado um volume grande de recursos para limitar o impacto económico e social da pandemia, mas os países em desenvolvimento têm tido enormes dificuldades, quer para combater a doença, quer para minorar os terríveis problemas que suas populações estão a sofrer no plano económico e social", acrescentou.

Reiterando que esta é a "maior crise desde a Segunda Guerra Mundial", o diplomata sublinhou que esta demonstrou que o mundo não está preparado. "É uma crise que mostra que o mundo é demasiado frágil em relação às ameaças que se apresentam hoje para a humanidade", concluiu.

Mundo dividido entre China e EUA será "muito perigoso"

"O problema não é novo, uma vez que já há alguns meses referi que esta grande rotura que ameaça dividir o mundo em duas áreas, com duas economias separadas, com duas moedas dominantes, com regras económicas e comerciais distintas, com Internet e estratégias de inteligência artificial diferentes, um mundo dividido em dois seria extremamente perigoso e teria, inevitavelmente, consequências a prazo nos domínios da paz e segurança", afirmou Guterres na entrevista à televisão pública.

Insistindo na ideia de que, tendo em conta a atual pandemia, é necessário "um esforço global concertado", os "dois países mais poderosos do mundo, a China e os Estados Unidos", aliado ainda ao facto de estarem "profundamente divididos", tem "limitado fortemente" a capacidade da comunidade internacional responder à pandemia.

O "recrudescimento de tendências nacionalistas e populistas"

Guterres advertiu também para o facto de o mundo estar a assistir a uma "certa tendência de um recrudescimento de tendências nacionalistas e populistas".

"Temos agora o racismo e a xenofobia e outras formas de irracionalidade que põem em causa os valores de que os europeus se podem orgulhar. Foi talvez a maior contribuição que a Europa deu à civilização mundial. Vivemos num mundo de pós ilustração, de irracionalidade. É verdade, pelo menos em muitos setores, em muitos aspetos, e daí a lógica do nosso egoísmo, do nacionalismo, do nosso país primeiro, esquecendo que o interesse do nosso país só pode ser realizado num quadro de solidariedade global", acrescentou.

"Será que vai prevalecer esta visão ou será que vai prevalecer aquela que, face à discriminação que há pouco descrevia, temos de nos unir, de pôr em conjunto as nossas capacidades, de reforçar os mecanismos internacionais de governo e as instituições multilaterais para respostas combinadas e para uma cooperação internacional mais intensa? É difícil dizer neste momento o que vai prevalecer", afirmou.

[Notícia atualizada às 8h03 de terça-feira]

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