"Numa altura em que uma resposta humanitária urgente era necessária para proteger todas as vidas no Afeganistão, as forças de segurança dos talibãs e do Afeganistão efetuaram ações violentas deliberadas que comprometiam as operações de assistência médica", disse, em comunicado, o representante da chefe da UNAMA, Deborah Lyons, citada pela agência Efe.
O mesmo responsável manifestou a "grave preocupação" da ONU pelos factos ocorridos e considerou que "não há desculpa para tais ações", pois "a segurança e o bem-estar da população civil devem ser uma prioridade".
A chefe do depatamento de Direitos Dumanos da UNAMA, Fiona Frazer, sublinhou também que é "particularmente condenável" a perpetração de ataques seletivos contra unidades de cuidados médicos durante a pandemia, quando os recursos médicos estão praticamente esgotados e são de importância crítica para a população civil.
No seu relatório, a missão da ONU relata que entre 11 de março - quando a Organização Mundial da Saúde (MS) declarou a pandemia do coronavírus - e 23 de maio - altura em que os talibãs e o governo afegão concordaram realizar uma trégua de três dias -, registaram-se 15 ataques que afetaram a prestação de cuidados médicos.
Desses 15 ataques, oito são atribuídos aos talibãs, como o ataque a uma farmácia e o sequestro de 23 profissionais de saúde em sete desses incidentes.
Num desses ataques, em 22 de março, os talibãs sequestraram cinco trabalhadores de saúde de uma organização não-governamental (ONG), que trabalhava na província de Kunar (nordeste), prestando serviços médicos declarados obrigatórios pelo governo.
A missão da ONU documenta ainda pelo menos três ataques cometidos pelas forças de segurança afegãs naquele período, incluindo um ataque aéreo, em 19 de maio, a uma unidade de saúde talibã na província de Kunduz, no norte, situação que, para a ONU, demonstra um "evidente desrespeito ao direito internacional humanitário".
O relatório acusa também as forças do Governo de "interromperem intencionalmente os serviços de saúde, através de ameaças ao pessoal de saúde e pilhagem de material", em pelo menos duas ocasiões, entre 11 de março e 23 de maio.
O relatório da UNAMA faz uma menção especial ao ataque realizado à maternidade no hospital Dasht-e-Barchi, em Cabul, gerido pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF), que em 12 de maio causou a morte a 25 pessoas, incluindo 16 mães e duas crianças, segundo aquela ONG.
A missão declara-se "profundamente perturbada" por este ataque efetuado por "grupos desconhecidos", que constitui "uma violação flagrante do Direito internacional" e pode ser classificado como "crime de guerra".
Embora a ação não tenha sido reivindicada, o Governo afegão atribuiu o ataque aos talibãs, que prontamente o negou, enquanto os Estados Unidos, por meio de seu enviado especial para a reconciliação afegã, Zalmay Khalilzad, assegurou que a responsabilidade era do grupo jihadista Estado Islâmico (IS).
O ataque ao hospital de Cabul ocorreu no mesmo dia em que houve um ataque suicida durante o funeral de um policia, tendo neste caso o IS reivindicado a ação.
Devido ao sangrento ataque contra a maternidade, os Medicos Sem Fronteiras anunciaram, em 15 de junho, o fim das suas atividades na área, povoada pela minoria xiita Hazara - vítima regular do Estado Islâmico -, por não estar garantida a segurança da sua equipa médica e dos doentes.