Mulher grávida morreu após ser recusada em oito hospitais em 15 horas

O caso de Neelam Gautam não é único na Índia. O fragilizado sistema de saúde do país está a soçobrar face à pandemia.

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Notícias Ao Minuto
22/06/2020 23:58 ‧ 22/06/2020 por Notícias Ao Minuto

Mundo

Coronavírus

No seu nono mês de gestação, Neelam Gautam enfrentou diversos problemas de saúde e chegou a passar cinco dias no hospital devido a elevada pressão arterial relacionada com a gravidez, e possivelmente febre tifóide. Para além das complicações com a gravidez, Neelam e o seu marido, Bijendra Singh, enfrentavam uma preocupação adicional. O surto de coronavírus agravou-se na Índia, sobrecarregando os hospitais indianos a um ponto de colapso. 

No entanto, quando na madrugada do passado dia 5 deste mês Neelam acordou com fortes dores de parto, ela e Bijendra não poderiam imaginar o desfecho trágico da gravidez. 

Como dá conta o The New York Times, Neelam foi recusada em oito hospitais diferentes de Nova Deli, a capital da Índia, numa odisseia que durou 15 horas. Acabou por morrer, assim como o bebé que esperava. 

No primeiro hospital que tentaram, ambos foram recebidos desta forma por um médico: "Dou-lhe um estalo se tentar tirar a sua máscara", disse um médico a Neelam

Ficaram chocados, mas, face aos problemas respiratórios de Neelam, nem sequer deram resposta. A mulher pediu que lhe dessem oxigénio. Mas o médico recusou assistir Neelam e mandou-os para outra unidade hospitalar, onde foi igualmente recusada a sua admissão. 

A situação repetiu-se no terceiro hospital. No quarto, Bijendra Singh já pedia um ventilador para Neelam, cujo estado de saúde foi, gradualmente, deteriorando-se. A resposta do médico que os atendeu foi brutal. "Ela vai morrer. Leve-a para onde quiser". 

Ao sétimo hospital que rejeitou prestar assistência à sua esposa, Bijendra Singh chamou a polícia. Dois agentes deslocaram-se ao Instituto de Ciências Médicas, um grande hospital público de Nova Deli. Os polícias tentaram convencer os médicos a admitirem Neelam, mas nem isso resultou. 

A mulher foi de ambulância para o oitavo hospital. Quando lá chegaram, disseram-lhes que não tinham disponíveis para receber Neelam. Nesta altura, cada vez mais enfraquecida, Neelam já murmurava "Salvem-me". 

A ambulância regressou ao Instituto de Ciências Médicas. Bijendra Singh colocou a sua esposa numa cadeira de rodas e empurrou-a na direção de uma sala das urgências, desesperado. Mas era demasiado. Neelam. Os médicos pronunciaram a sua morte e a do bebé. 

Baixo investimento num sistema de saúde a colapsar

Uma investigação preliminar do governo indiano considerou a administração do hospital e os funcionários do Instituto de Ciências Médicas culpados de negligência. 

Mas este não foi o único caso recente. Uma mulher grávida morreu em circunstâncias semelhantes em Hyderabad, outra na Caxemira indiana. Casos que ilustram a incapacidade e as lacunas do sistema de saúde indiano de responder à pandemia e a outras emergências médicas. 

O ritmo de contágios por coronavírus está a aumentar a um ritmo alarmante - só Estados Unidos e Brasil apresentam um número superior de casos por dia - num país com uma população de 1,3 mil milhões. O número de mortes causadas pela Covid-19 é de mais de 13.600. Os hospitais estão nos limites das suas capacidades, e Nova Deli é um exemplo disso mesmo. 

Muitas pessoas morrem nas ruas e os médicos têm medo de tratar os pacientes com coronavírus. Mas os problemas do sistema de saúde indiano eram anteriores à pandemia. Algo que se pode explicar pelo baixo investimento do governo de Narendra Modi na área da saúde. O governo indiano gasta menos de duas mil rupias (cerca de 23,4 euros) por pessoa por ano em cuidados de saúde. 

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