"Admito que a relação não está fácil para que um encontro aconteça não só porque tem a questão da covid, mas também pelas diferentes políticas de ambos os países que motivam os dois Presidentes a expressarem-se exatamente em pólos opostos sobre como encarar a pandemia", indicou o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, durante videoconferência com os jornalistas estrangeiros em Buenos Aires.
O ministro argentino apontou ao ponto central da discórdia para que seja difícil um encontro pessoal entre os presidentes Alberto Fernández e Jair Bolsonaro que nunca se falaram nem mesmo pelo telefone, apesar de um país ser o principal parceiro estratégico do outro.
"A posição de proteger a saúde humana em primeiro lugar, no caso de Alberto Fernández, ou proteger a economia e deixar que a pandemia se expanda, em nível federal, no caso de Jair Bolsonaro", comparou, acrescentando: "Esse é um dos motivos de desencontro forte".
O argentino Alberto Fernández usa regularmente o mau desempenho do Brasil em matéria sanitária no combate ao coronavírus para exaltar o bom desempenho argentino. Já o brasileiro Jair Bolsonaro indica que a Argentina ruma ao socialismo e que as intervenções do governo na economia têm levado empresários argentinos a procurarem refúgio no Uruguai e no Brasil.
Em termos de combate ao vírus, enquanto a Argentina adotou a mais prolongada quarentena do mundo, o Brasil flexibiliza as restrições.
Enquanto a Argentina, com 45 milhões de habitantes, tem 2.122 mortos, o Brasil, com quase cinco vezes mais de população, tem 36 vezes mais óbitos: 76.822.
Mas a desavença entre os dois começou há um ano. Bolsonaro não cumprimentou Fernández pela vitória nas urnas em outubro e não foi à posse do Presidente argentino em dezembro.
Há duas semanas, os dois participaram numa videoconferência para a reunião virtual de presidentes do Mercosul, mas nenhum mencionou o outro.
Os ataques entre Jair Bolsonaro e Alberto Fernández começaram em junho do ano passado, quando Bolsonaro começou a fazer campanha a favor da reeleição do ex-presidente, Mauricio Macri durante o processo eleitoral argentino e alertou para o risco de Fernández transformar a Argentina numa nova Venezuela.
No mês seguinte, Alberto Fernández visitou Lula da Silva na prisão e depois, em outubro, durante o seu discurso de vitória, pediu a liberdade de Lula, maior inimigo político de Bolsonaro.