Na semana passada, Ancara indicou que o navio de pesquisa sísmica Oruç Reis deveria ser deslocado para a proximidade da ilha grega de Kastellorizo (Meis em turco), situada perto das costas turcas.
"O nosso Presidente declarou que enquanto prosseguirem as negociações, vamos esperar algum tempo para adotar uma atitude construtiva", indicou na terça-feira Ibrahim Kalin, porta-voz do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
"A Grécia é um país vizinho importante para nós (...). Estamos prontos a discutir com a Grécia", acrescentou em entrevista à cadeia televisiva CNN-Turk.
As declarações surgem num momento em que a tensão no Mediterrâneo oriental registou um agravamento na semana passada, com Atenas a enviar navios militares para o mar Egeu.
A descoberta nos últimos anos de importantes jazidas de gás no Mediterrâneo oriental aguçou o apetite dos países ribeirinhos, em particular da Grécia, Chipre, Turquia, Egito e Israel.
A Turquia acelerou as buscas exploratórias ao largo de Chipre, suscitando fortes protestos da maioria dos países da região e da União Europeia, que denunciam atividades "ilegais".
Numa tentativa de legitimar as suas reivindicações, Ancara assinou em 2019 um controverso acordo marítimo com o Governo de Tripoli que expande o seu território marítimo no Mediterrâneo oriental.
A Grécia e a Turquia confrontam-se há décadas pela delimitação das suas plataformas continentais no mar Egeu, e recentemente no Mediterrâneo oriental.
A Turquia argumenta que nenhuma ilha tem o direito a uma plataforma continental, incluindo se atingir a dimensão de Creta ou Chipre. Tem ainda solicitado a revisão do Tratado de Lausanne, que desde 1923 delimita das fronteiras entre os dois países.
Pelo contrário, a Grécia considera que todas as ilhas têm pleno direito a uma plataforma continental, e que a sua não inclusão nas zonas marítimas de interesse económico constitui uma violação da lei internacional.
A Grécia possui cerca de 6.000 ilhas e pequenos ilhéus nos mares Egeu e Jónio, com mais de 200 habitadas.
Países vizinhos, e membros da NATO, a Grécia e a Turquia têm relações historicamente tensas, agravadas nos últimos anos devido às questões migratórias e ao aumento do fluxo de migrantes, mas que abrangem outros temas, como a delimitação das fronteiras marítimas, espaços aéreos, plataformas continentais e a definição das respetivas zonas económicas exclusivas.
A disputa no Mediterrâneo Oriental tem ainda origem no conflito em torno de Chipre, dividido há quase 50 anos entre o sul cipriota grego e o norte cipriota turco, cerca de um terço do território.
A Turquia assume o estatuto de protetor da população cipriota turca e é o único país que reconhece a autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN) como Estado independente.
No final da década de 2000, e após Israel anunciar a descoberta de jazidas de gás natural na região, o Governo de Chipre contratou diversas empresas de energia para iniciarem a prospeção de hidrocarbonetos em redor da ilha. E em dezembro de 2011 a empresa norte-americana Noble Energy anunciava a descoberta de "significativos recursos de gás natural".
No entanto, a Turquia, que assume cada vez mais o seu estatuto de potência regional, foi excluída dos contratos de exploração dos recursos energéticos, reivindicados por oito países, da Líbia ao Egito e Israel.
Ancara reagiu, argumentou de imediato qualquer benefício desta exploração também deveria contemplar os cipriotas turcos e acusa Chipre de ingerência na sua plataforma continental.
De imediato, definiram-se dois blocos rivais, de um lado a Turquia e Chipre do Norte, do outro Chipre, Grécia, Egito e Israel, para além do apoio dos Emirados Árabes Unidos (EAU) e França.