Testagem e rastreio de contactos essenciais para abertura de escolas

O reforço dos programas de testagem e de rastreio de contactos são essenciais para a reabertura das escolas de forma segura durante a pandemia de covid-19, apontam dois estudos publicados hoje pela revista científica Lancet.

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Lusa
03/08/2020 23:38 ‧ 03/08/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

A revista The Lancet Child & Adolescent Health publicou hoje dois estudos sobre a transmissão do novo coronavírus em ambiente escolar, apontando ambas para a importância de medidas de controlo epidemiológico.

Uma das investigações, um estudo de modelagem realizado pelo Colégio Universitário de Londres e a Escola de Higiene e Medicina Tropical, sugere que a reabertura das escolas no Reino Unido deve ser acompanhada de uma estratégia ampla de testagem, rastreio e isolamento, de forma a evitar uma segunda vaga da pandemia.

Neste estudo, os investigadores desenharam seis cenários para o arranque do próximo ano, incluindo situações de ensino presencial e misto e diferentes níveis de testagem, estimando o número de novas infeções e o índice de transmissão para cada cenário.

Segundo os resultados, se entre 59% e 87% das pessoas sintomáticas forem testadas e se houver um rastreio de contactos e medidas de isolamento eficazes, o Reino Unido consegue evitar uma eventual segunda vaga, mesmo reabrindo as escolas.

No entanto, se este reforço não acontecer, os investigadores estimam um novo pico da curva epidemiológica já em dezembro, se todos os alunos regressarem simultaneamente às aulas presenciais, ou em fevereiro de 2021, num cenário de regime misto.

"O nosso modelo analisou os efeitos da reabertura das escolas a par de um aliviar das restrições em toda a sociedade", ressalvou uma das principais autoras do estudo Jasmina Panovska-Griffiths, do Colégio Universitário de Londres.

Segundo a investigadora, os resultados refletem, por isso, um desconfinamento mais amplo e não os efeitos da transmissão apenas no espaço escolar, sugerindo que uma estratégia eficaz oferece uma alternativa viável ao confinamento intermitente e ao encerramento de escolas para controlar a propagação da pandemia.

Por outro lado, o investigador da Escola de Higiene e Medicina Tropical Chris Bonell considera da interpretação destes dados não deve resultar um receio acrescido em relação à retoma do ensino presencial.

"O nosso estudo não deve ser usado para manter as escolas fechadas por causa do medo de uma segunda vaga, mas como um apelo para a melhoria das medidas de controlo da infeção e dos sistemas de teste e rastreio, para que possamos levar as crianças de volta à escola", sublinhou.

Já a segunda investigação assentou em dados recolhidos em 15 escolas e 10 creches de Nova Gales do Sul, na Austrália, entre janeiro e abril, onde foram detetados casos positivos da covid-19.

Segundo os autores do estudo, os dados apontam para baixos níveis de transmissão em escolas e creches sempre que estavam em vigor medidas de controlo do vírus eficazes.

Durante este período, foram identificadas 12 crianças e 15 funcionários que frequentaram a escola enquanto estavam doentes, mas apenas 18 pessoas foram infetadas, entre os 1.448 contactos identificados e 633 testados depois de apresentarem sintomas.

"Os nossos resultados são os dados mais abrangentes que temos até agora sobre a transmissão do SARS-CoV-2 nas escolas e nos estabelecimentos de educação infantil", refere uma das investigadoras, Kristine Macartney, da Universidade de Sydney.

A autora ressalva, no entanto, que é importante olhar para os dados tendo em consideração o contexto concreto de Nova Gales do Sul, admitindo a possibilidade de índices de transmissão mais altos noutras zonas e noutros países.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 689 mil mortos e infetou mais de 18,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.738 pessoas das 51.569 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

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