Pandemia poderá estar a desviar atenção e fundos da crise climática

A pandemia de covid-19, além de pôr em perigo inúmeras vidas, poderá estar também a desviar atenções e fundos destinados à crise climática, "numa altura em que são extremamente necessários", alerta a UNFCCC, agência da ONU para o clima.

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Lusa
21/08/2020 19:23 ‧ 21/08/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

 

A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla original, também conhecida como Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas), divulgou hoje um relatório sobre as principais ações de 2019, no qual afirma: "Embora o combate à pandemia seja a prioridade mundial, temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para manter o impulso climático em curso".

A UNFCCC é o organismo da ONU que apoia a resposta global às alterações climáticas, trabalhando com governos, organizações e empresas para construir um mundo neutro para o clima e resistente às alterações climáticas.

No documento hoje divulgado a UNFCCC diz que parece que 2020 está longe de ser o que tinha sido previsto e que a crise económica global, e as prioridades dos países, podem afetar profundamente o esforço climático global.

Lembrando que em 2019 aconteceram "eventos climáticos devastadores", que os níveis de dióxido de carbono continuam a subir e as calotes polares a derreter, que se atingiu o nível mais alto do mar alguma vez registado, a UNFCC sublinha que "a incapacidade de enfrentar as alterações climáticas só irá exacerbar impactos futuros", e que "a maioria dos países não está a responder a apelo de ação ambiciosa nem a preparar-se ao ritmo que a ciência indica ser necessário".

E acrescenta a entidade no documento: "Os esforços estão a ser limitados pela falta de recursos, por diferentes expectativas e compreensão da ambição, pela complexidade e pela grande variedade de interesses envolvidos".

Salientando que há uma "consciência crescente por parte da sociedade civil, especialmente da juventude", para a necessidade de ação sobre as alterações climáticas, a UNFCCC defende que os países têm de assumir compromissos mais arrojados (em diminuir emissões de gases com efeito de estufa) na próxima reunião mundial sobre o clima, a COP26, que estava prevista para este ano mas que foi adiada por um ano devido à covid-19.

"Não podemos adiar mais estes compromissos", diz a organização no relatório, incentivando a que se "acelere o ritmo" e que os próximos 10 anos sejam de ações globais em matéria de alterações climáticas.

"O mundo de hoje é 1,1 °C mais quente do que nos tempos pré-industriais. As consequências deste aquecimento são enormes, como se viu no aumento de cheias e incêndios intensos e em eventos climáticos extremos da última década", avisa a organização, lembrando que como os seres humanos também os ecossistemas sofrem com as mudanças extremas.

E a UNFCCC refere a propósito que inúmeras espécies não se vão conseguir adaptar a novas condições e que ONU estima que um milhão de espécies estão à beira da extinção devido à atividade humana.

"Temos de alterar o nosso percurso antes que seja demasiado tarde. Precisamos de fazer mudanças drásticas na forma como produzimos, consumimos e gerimos a nossa energia. Precisamos de proteger os ecossistemas para que se mantenham saudáveis e resilientes contra as pressões climáticas", diz-se no documento.

O relatório resume as principais ações da UNFCCC em áreas como a adaptação e mitigação dos efeitos das alterações climáticas, o apoio financeiro, a inovação e a tecnologia, a capacitação, ou o mercado do carbono. E dá destaque aos trabalhos e resultados da última cimeira do clima de Madrid, no ano passado, a COP25.

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