O vídeo, produzido pela Associação de Criadores do Pará (AcriPará), um grupo formado por fazendeiros produtores de gado, foi divulgado na quarta-feira à noite nas contas da rede social Twitter do vice-presidente brasileiro e chefe do Conselho Nacional da Amazónia Legal, Hamilton Mourão, e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
"De que lado você está? De quem preserva de verdade ou de quem manipula seus sentimentos? O Brasil é o país que mais preserva suas florestas nativas no mundo. Essa é a verdade. Nós cuidamos!", escreveu Mourão na mensagem que acompanha o vídeo.
"Recebi este vídeo, a Amazónia não está queimando", afirmou Salles ao publicar o mesmo conteúdo.
Logo no início, a produção audiovisual mostra um mico-leão-dourado, um tipo de macaco quase extinto, enquanto um narrador diz em inglês que a Amazónia não está a arder.
A presença do mico-leão-dourado despertou atenção porque o animal só é encontrado na Mata Atlântica, um outro bioma que cobria grande parte do Brasil, mas que graças à ação humana tem hoje apenas 12,4% da sua vegetação original preservada em pequenas áreas remanescentes em estados do nordeste, sudeste e do sul do país.
Já a floresta amazónica está localizada, predominantemente, na região norte do país.
Portanto, assim que o vídeo começou a circular internautas e ambientalistas questionaram o ministro e o vice-presidente, alegando que o mico-leão-dourado não vive na Amazónia e mostrar imagens dele para dizer que a maior floresta tropical do mundo não está a arder consiste em divulgar informação falsa.
Marcio Astrini, secretário-executivo da organização não-governamental Observatório do Clima, foi um dos especialistas que comentou a publicação do vídeo.
"O ruim não é só o ministro [Ricardo Salles] compartilhar vídeo que mostra imagens da Mata Atlântica dizendo que são da Amazónia, mas o facto de que o vídeo simplesmente afirma que a Amazónia não está queimando, contrariando a realidade. E ele concorda", escreveu Astrini na rede social Twitter.
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), instituição pública ligada e mantida pelo Governo do Brasil, indicaram que apenas no mês de agosto a Amazónia brasileira registou 29.307 focos de queimadas.
Questionado hoje por jornalistas sobre a polémica, Mourão respondeu que "aquilo é uma integração Amazónia-Mata Atlântica", alegação que também causou perplexidade dada a distância, de centenas de milhares de quilómetros, que separa os dois biomas.
A desflorestação da Amazónia no Brasil cresceu 34% de agosto de 2019 a julho de 2020 em comparação com o mesmo período anterior, segundo dados compilados anualmente pelo INPE.
Esta é a leitura mais completa de dados sobre a perda de vegetação da floresta amazónica no país já que considera dados coletados ao longo de 12 meses levando em conta as estações de seca e de chuvas que são fundamentais para entender o bioma.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta, com cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).