O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), o regulador de saúde norte-americano, voltou atrás nas orientações que publicou na passada sexta-feira, no seu site oficial, relativamente à transmissão do novo coronavírus, removendo todas as indicações mais recentes que apontavam para a possibilidade de transmissão aérea.
O regulador tinha publicado na sexta-feira uma orientação que explicava que a forma mais habitual de contágio é a transmissão aérea - gotículas respiratórias, mas também pequenas partículas, como aerossóis, que podem ser inaladas através do nariz e da boca, atingindo depois as vias respiratórias e pulmões -, motivo pelo qual sugeria que a falta de ventilação em espaços fechados era um risco acrescido, uma vez que o vírus poderia infetar a uma distância de 1,8 metros.
Ou seja, se antes se indicava que o vírus se espalhava através de gotículas que se encontram a distâncias curtas, na sexta-feira passava a sustentar que "pequenas partículas, como as encontradas em aerossóis", também era um vetor comum. Uma informação que implicava sérias mudanças, numa altura em que os alunos estão a regressar às escolas, por exemplo.
Agora, na página do organismo, está um aviso a explicar que a informação "foi publicada por erro". "O CDC está neste momento a atualizar as suas recomendações em relação à transmissão aérea do SARS-CoV-2 (o vírus que causa a Covid-19). Uma vez terminado o processo, a linguagem atualizada será publicada", pode ler-se, verificando-se que desapareceram todas as referências à transmissão aérea.
"Infelizmente, um esboço inicial de uma revisão foi colocada online sem qualquer revisão técnica", disse Jay Butler, vice-diretor do CDC. "Estamos a regressar à versão inicial a revisitar esse processo. Foi um falha processual por parte do CDC", acrescentou, citado pelo Washington Post.
A informação agora disponibilizada pelo regular de saúde sustenta que a principal via de transmissão é o contacto direto com pessoas infetadas, por causa das gotículas que são expelidas através da fala ou da tosse ou espirro, embora a infeção também seja possível por causa de gotículas que ficam em superfícies e objectos (se a pessoa tocar no local contaminado e depois no olhos, na boca ou no nariz). Fica ainda por provar a infeção por transmissão aérea.
Artigo sobre recomendações de testagem não foi escrito pelo CDC, mas pelo Governo?
Na semana passada, o New York Times noticiou que uma das recomendações mais criticadas do CDC, sobre quem deveria ser submetido a testes de diagnóstico, não foi escrita por cientistas do organismo e foi publicada no site da agência à revelia das suas fortes objeções.
De acordo com a reportagem do jornal, a orientação indicava que não seria necessário testar pessoas sem sintomas de Covid-19, mesmo que tivessem sido expostas ao vírus. A informação saía numa altura em que o organismo pressionava para que fossem feitos mais testes, ao invés de menos, conforme ameaçava o presidente norte-americano.
Responsáveis da administração norte-americana indicaram que o documento era da autoria do CDC e tinha sido revisto pelo diretor do organismo, Robert Redfield. Porém, na semana passada, outros responsáveis indicaram ao jornal que o documento foi revisto por oficiais do departamento de Saúde do governo de Donald Trump e colocado no site do CDC, contornando todo o processo de revisão da agência.
"Foi um documento que veio 'de cima para baixo', veio do departamento da Saúde e do grupo de trabalho", disse um responsável governamental com conhecimento do caso, referindo ao grupo de trabalho da Casa Branca para lidar com o combate à pandemia. O responsável esclarece, até, que o documento tem "erros primários" - como referir "testes à Covid-19" e não ao vírus que causa a doença - e recomendações que não são consistentes com as do CDC.