O Observatório do Clima, coligação de organizações criada para discutir as mudanças climáticas no Brasil em 2001, disse, em comunicado: "Jair Bolsonaro não fugiu do 'script' [roteiro] no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas" e num discurso "calculadamente delirante, o Presidente mais uma vez expôs o país de forma constrangedora e confirmou as preocupações dos investidores internacionais que pensam em sair do Brasil".
A organização acrescentou que "ao negar simultaneamente a crise ambiental e a pandemia, o Presidente dá a trilha sonora para o desinvestimento e o cancelamento de acordos comerciais no momento crítico de recuperação económica pós-covid".
O Presidente brasileiro afirmou hoje na abertura dos debates da Assembleia Geral da ONU que o seu Governo é vítima de uma "campanha brutal de desinformação sobre a Amazónia.
"O agronegócio [do Brasil] continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta. Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazónia e o Pantanal", afirmou Bolsonaro.
Sobre a crítica feita por Bolsonaro, que no passado chamou as organizações não-governamentais (ONG) que lutam em defesa da preservação da Amazónia de "cancro", o Observatório do Clima observou que Bolsonaro "acusou um conluio inexistente entre ONG e potências estrangeiras contra o país, mas, ao negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas".
Mantendo a linha de colocar em causa as declarações feitas pelo líder brasileiro, Gabriela Yamaguchi, diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil, considerou que o Bolsonaro proferiu "uma fala cheia de acusações infundadas e ilações sem base científica que não condiz com o papel de um chefe de Estado".
"Declarar que as queimadas são provocadas pelos "índios e caboclos"[povos tradicionais descendentes de indígenas e brancos] é a maior delas. Como um roteiro de ficção, o discurso uniu palavras-chaves das Nações Unidas com descrições de um Brasil que não existiu em 2020, em completo negacionismo da realidade do país e desconsiderando a urgência e seriedade dos desafios globais que o secretário-geral da ONU, António Guterres, tão bem descreveu", acrescentou.
Já a organização Greenpeace avaliou, também em comunicado, que Governo brasileiro está sob intensa pressão nacional e internacional devido aos números crescentes de queimadas e ações de desflorestamento, e diante de um país que arde em chamas, o discurso negacionista do Presidente "envergonha o povo brasileiro e isola o Brasil do mundo".
A ONG lembrou que o país sul-americano detém uma parcela considerável da maior floresta tropical do mundo, a Amazónia, em seu território, além da maior planície interior inundável do mundo, o Pantanal, mas não está a preservar estes biomas que sofrem com queimadas e ações de desflorestação nos últimos anos.
"Desde que Bolsonaro assumiu o poder, o país está se transformando em líder mundial em desflorestamento. Segundo dados da Global Forest Watch, o Brasil foi o país que mais destruiu suas florestas em 2019, e este ano, os dados mostram que a situação só se agravou. Os efeitos de tamanha destruição se refletem nas queimadas que estão avançando sobre alguns dos principais biomas brasileiros, como o Pantanal, a Amazónia e o Cerrado", frisou a Greenpeace.
A organização ambientalista concluiu que "o mundo está vendo, horrorizado", a forma como o Governo brasileiro trata as florestas a partir do desmonte sistemático das estruturas e políticas públicas que promovem a proteção ambiental.
O Presidente do Brasil abriu hoje, como é tradicional, as intervenções de líderes na Assembleia Geral da ONU. Este ano, a organização multilateral celebra 75 anos e o encontro iniciado hoje, que tem a pandemia de covid-19 como pano de fundo, impediu a presença de todos os participantes, levando-a para o formato de videoconferências.