Numa intervenção inesperada e invulgar, Hoyle queixou-se de que legislação derivada tem sido publicada muitas vezes apenas horas antes de entrar em vigor sem ter sido apresentada ou debatida no Parlamento, o que "mostra um total desrespeito pela Câmara [dos Comuns]".
Mesmo assim, o 'speaker' recusou aceitar propostas de alteração à moção que vai hoje ser discutida para renovar por mais seis meses os poderes extraordinários dados ao Governo para introduzir medidas de combate à pandemia devido ao risco de criar incerteza na sua interpretação.
Um grupo de deputados conservadores, liderados pelo influente Graham Brady, propôs uma emenda para que o governo fosse obrigado a dar aos deputados a oportunidade de debater e votar novas restrições.
A iniciativa angariou mais de 50 subscritores do próprio Partido Conservador, o que, caso tivesse o apoio do Partido Trabalhista e a restante oposição, poderia resultar numa derrota indesejada para o Governo.
Hoyle urgiu o executivo a fazer mais esforços para apresentar medidas mais rapidamente para que possam ser debatidas pelos deputados, senão ameaça aceitar pedidos de debates de emergência para obrigar os ministros a justificarem o uso de poderes nesta matéria.
"Espero que o governo resolva a situação que considero totalmente insatisfatória. Espero que o governo recupere a confiança desta Câmara e não a trate com o desprezo que tem mostrado", avisou.
No debate semanal com o primeiro-ministro, realizado imediatamente depois da intervenção, o líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, confrontou Boris Johnson com o prolongamento de restrições e a confusão de medidas em diferentes localidades de Inglaterra.
"Ninguém quer impor restrições deste tipo. Mas quando temos o vírus a aumentar da forma que está em algumas partes do país, é preciso tomar medidas fortes localmente", justificou o primeiro-ministro.
Boris Johnson foi forçado a pedir desculpa na terça-feira por se ter enganado a esclarecer quais as restrições em vigor no nordeste de Inglaterra depois de ter respondido a um jornalista de forma confusa e incorreta.
Na terça-feira foram registadas 7.143 novas infeções, um novo recorde diário, e mais 71 mortes de covid-19 nas últimas 24 horas, confirmando um agravamento da situação epidémica no país devido ao ressurgimento de casos de contágio.
O Reino Unido é o país europeu com o maior número de mortos na Europa, 42.072 oficialmente, embora estatísticas oficiais que contabilizam os casos suspeitos cuja certidão de óbito refere o covid-19 apontem para mais de 57.600 mortes desde o início da pandemia.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão de mortos e mais de 33,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.