ONU foi "plataforma útil para envergonhar Rússia", mas situação mudou

O analista do International Crisis Group(ICG) Richard Gowan defende que a guerra na Ucrânia transformou a ONU "numa plataforma útil" para "envergonhar a Rússia" e reunir apoio para Kyiv, admitindo que o conflito em Gaza mudou a situação.

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Lusa
23/02/2025 10:23 ‧ há 4 horas por Lusa

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Em entrevista à Lusa, Gowan refletiu sobre o papel que as Nações Unidas (ONU), e particularmente o seu Conselho de Segurança, tiveram ao longo destes quase três anos de conflito, frisando que esse poderoso órgão composto por 15 Estados-membros "nunca impediria a Rússia de invadir a Ucrânia" devido ao poder de veto de Moscovo - um dos cinco membros permanentes.

 

"Desde o início, os Estados Unidos e os seus aliados europeus viram a ONU como uma plataforma útil para envergonhar a Rússia em público e conseguir apoio internacional para Kyiv. A estratégia ocidental funcionou muito bem de fevereiro de 2022 a outubro de 2023. A Assembleia-Geral da ONU deu legitimidade e um impulso moral aos ucranianos ao votar repetidamente para que a Rússia acabasse com a guerra e se retirasse", recordou o analista.

"É certo que, em meados de 2023, algumas nações sofriam de fadiga da 'Ucrânia' e questionavam se todos estes debates e votações tinham sido produtivos. Mas a mensagem da ONU para Moscovo foi clara", frisou.

Contudo, para este especialista no sistema das Nações Unidas, Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz, "o jogo mudou na ONU" a partir de outubro de 2023, com o início da guerra em Gaza.

"De repente", disse Gowan, "os Estados Unidos viram-se na defensiva em relação à operação militar de Israel, e os ucranianos perceberam que não podiam recorrer à Assembleia-Geral com tanta frequência em busca de apoio por causa da raiva do Sul Global em relação a Gaza".

Tendo tudo em conta, Richard Gowan acredita que os ucranianos "têm-se sentido cada vez menos amados no último ano", com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a questionar "o valor da diplomacia da ONU".

Além disso, o regresso de Donald Trump à Casa Branca irá potencialmente alterar a forma como o conflito na Ucrânia se irá desenvolverá.

Na semana passada, Donald Trump manteve um telefonema com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, durante o qual os dois líderes concordaram em iniciar negociações para encerrar o conflito na Ucrânia.

Após essa conversa, Trump também falou com Volodymyr Zelensky para informá-lo sobre as negociações planeadas, mas não foi claro sobre o envolvimento de Kyiv e dos aliados europeus nessas conversações.

Em resposta, vários países europeus emitiram uma declaração conjunta enfatizando que tanto a Ucrânia quanto a Europa deveriam ser incluídas em quaisquer negociações de paz.

Richard Gowan, que é diretor do departamento da ONU no ICG, uma organização não-governamental voltada para a resolução e prevenção de conflitos armados internacionais, considera que, a partir de agora, Washington irá concentrar-se em fechar um acordo através da diplomacia bilateral com Moscovo, deixando as discussões sobre a Ucrânia na ONU para segundo plano.

"Por outro lado, suspeito que os membros da União Europeia tentarão agora maximizar o apoio à soberania e à integridade territorial da Ucrânia na ONU, para elevar a moral debilitada de Kyiv", observou.

"Se Moscovo e Washington chegarem a um acordo, poderão pedir ao Conselho de Segurança que o aprove. Acredito que os diplomatas europeus considerarão esta tarefa difícil se acharem que o acordo não é fiável. Mas podem ter de aceitar isso", avaliou ainda.

Segundo o analista, a prioridade europeia será evitar quaisquer resoluções da ONU que ofereçam apoio jurídico à mudança das fronteiras da Ucrânia, "independentemente dos factos no terreno".

Pelo menos 12.654 civis foram mortos na guerra na Ucrânia desde fevereiro de 2022, 673 deles crianças, enquanto o número de feridos chega a 29.392, informou a ONU na segunda-feira, uma semana antes do terceiro aniversário do conflito.

Embora os cidadãos com mais de 60 anos sejam apenas 25% da população, representaram por outro lado quase metade das mortes de civis e mais de um terço dos feridos na linha de frente em 2024.

A organização denuncia ainda ataques "deliberados, repetidos e sistemáticos" contra infraestruturas energéticas, de saúde (790 ataques deste tipo) e educacionais (1.670).

Leia Também: Guterres? "Não fez" tudo para evitar guerra, mas mostrou "influência"

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