O ministro Fahrettin Koca reconheceu numa conferência de imprensa na noite de quarta-feira que desde 29 de julho a Turquia tem relatado o número de doentes com covid-19 atendidos nos hospitais ou tratados em casa.
A contagem não inclui os casos positivos assintomáticos, disse, ignorando uma pergunta sobre o número diário de novos casos positivos de coronavírus, indicador-chave sobre a evolução da epidemia em qualquer país.
"Estamos a falar de pessoas com sintomas. Estamos a divulgar isto como o número diário de doentes", disse Koca aos jornalistas.
A revelação gerou protestos nas redes sociais e pedidos ao Governo para que revele a verdadeira extensão do novo coronavírus entre a população de 83 milhões de habitantes.
A admissão do ministro ocorreu depois de um deputado da oposição, Murat Emir, ter afirmado que o número real de novas infeções diárias na Turquia é 19 vezes maior do que o divulgado pelo Governo.
Emir pediu hoje a Koca para deixar de divulgar os dados diários da epidemia. "Ninguém acredita nisso. Não tem valor científico", disse.
"O governo está a lutar contra os números em vez de combater a epidemia", adiantou.
A Associação Médica Turca pediu transparência, depois de ter vindo a questionar os dados diários sobre o coronavírus desde que a 29 de julho o Governo deixou de se referir a "casos" e passou a indicar "doentes".
A organização considerou que o Governo "escondeu a verdade" e "falhou em evitar a propagação" do vírus.
"Temos direito à verdade", escreveu na rede social Twitter Sebnem Korur Fincanci, presidente da associação.
O governo turco divulgou na quarta-feira 65 mortos e 1.391 novos "doentes" com covid-19, assumindo um total de 318.000 infetados, incluindo 8.195 mortos, desde o início da pandemia.
Segundo especialistas, os dados divulgados em todos os países subestimam os números reais da pandemia, devido a testagem limitada, a casos falhados e à falsificação de dados por alguns governos, entre outros fatores.
A pandemia de covid-19, transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro na China, já provocou mais de um milhão de mortos e mais de 33,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço da agência France Presse.