Kamala Harris falava no único debate com o candidato republicano à vice-presidência e atual vice-Presidente norte-americano, Mike Pence, que começou na quarta-feira à noite em Salt Lake City, Utah.
"O povo americano assistiu ao que é o maior falhanço de qualquer administração presidencial na história do nosso país", afirmou.
O novo coronavírus foi um tema central do debate, com Kamala Harris a culpabilizar Donald Trump e Mike Pence, responsável pela equipa de combate ao vírus na Casa Branca, por terem omitido a seriedade da doença durante um mês.
"Eles sabiam o que estava a acontecer e não vos disseram", afirmou Harris, dirigindo-se à audiência ao olhar diretamente para a câmara, tal como o candidato democrata à Casa Branca Joe Biden fez durante o debate passado com Donald Trump, antes das eleições de 03 de novembro.
Harris citou os números da pandemia nos Estados Unidos, onde foram infetados 7.5 milhões de pessoas e estão contabilizados mais de 211 mil mortos, além de 30 milhões de pedidos de subsídio de desemprego e o encerramento de uma em cada cinco empresas.
A candidata acusou ainda a administração de querer tirar o seguro de saúde a 20 milhões de pessoas, na tentativa de eliminar o Affordable Care Act (conhecido como Obamacare).
Na réplica, Mike Pence defendeu a forma como a Casa Branca lidou com a pandemia e disse que Trump salvou milhares de vidas ao encerrar as fronteiras com a China, onde o surto teve início.
"Desde o primeiro dia, o Presidente Donald Trump pôs a saúde da América em primeiro lugar", garantiu.
O vice-Presidente disse que haverá "dezenas de milhões de doses" da vacina contra a covid-19 prontas para distribuir "antes do final do ano" e que o plano de Joe Biden para combater a pandemia "parece um plágio" do que a Casa Branca tem estado a fazer.
Pence também caracterizou o Affordable Care Act como "um desastre" e disse que a administração está a trabalhar num plano melhor.
"O que Pence diz que a administração fez claramente não está a funcionar", contrariou Kamala Harris, que insistiu na responsabilização da Casa Branca pelos efeitos económicos da pandemia e acrescentou que "não podia haver uma diferença mais fundamental" entre os planos económicos dos candidatos.
"Joe Biden acredita que se mede a saúde e força da economia americana com base na saúde e força do trabalhador e da família americana", disse Harris. "Por outro lado, Donald Trump mede a força da economia com base em como estão as pessoas ricas".
Harris prometeu que Biden irá anular os cortes de impostos feitos por Trump e usar esse dinheiro para investir em infraestruturas, inovação, energia limpa e educação, com alguns níveis de ensino superior a tornarem-se gratuitos.
Pence usou esta questão a seu favor, dizendo aos eleitores que, no primeiro dia, Biden irá aumentar os impostos. Harris retorquiu que ninguém que ganhe menos de 400 mil dólares por ano sofrerá um aumento da carga fiscal.
Durante hora e meia de debate, moderado pela jornalista do USA Today Susan Page, Pence interrompeu Harris algumas vezes, levando-a a reclamar que ele a deixasse acabar de falar. No entanto, o tom da discussão foi bastante menos acintoso que o debate que opôs Donald Trump e Joe Biden, em 29 de setembro.
Susan Page tentou que os candidatos cumprissem as regras acordadas antes do início, mas não conseguiu que ambos respondessem diretamente a algumas perguntas.
Em várias ocasiões, Mike Pence usou o tempo de resposta para direcionar a discussão para outros temas, esquivando-se, por exemplo, a responder se tinha discutido com Donald Trump a idade e estado de saúde, visto que ele será o sucessor do Presidente se alguma coisa o incapacitar. Trump está infetado com covid-19.
Kamala Harris também evitou a pergunta sobre se ela e Biden vão tentar alargar o número de assentos no Tribunal Supremo, caso a candidata nomeada por Trump, Amy Coney Barrett, seja confirmada antes das eleições.
Na questão do Tribunal, que poderá reverter o direito ao aborto, Harris afirmou-se a favor do direito de escolha das mulheres, com Pence a declarar que tanto ele como Trump são pró-vida.
A discussão passou também pelas alterações climáticas, a reforma na polícia por causa das tensões raciais geradas pela morte de George Floyd e a transferência pacífica do poder, caso Joe Biden seja eleito.
Os próximos debates entre Biden e Trump são a 15 e 22 de outubro. Apesar da doença do Presidente, nenhum foi desmarcado.