A OMC tem sido até agora sempre liderada por homens. A candidata a ser escolhida para assumir as rédeas deverá ser nomeada após as negociações finais no início de novembro.
As duas mulheres tinham recebido um apoio de peso da União Europeia no início desta semana, depois de a Hungria e outros dois outros concorrentes ao cargo, o ex-ministro do Comércio Externo britânico, Liam Fox, e a candidata queniana, Amina Mohamed, se terem juntado à lista de apoiantes. O candidato da Arábia Saudita, Mohammed Al-Tuwaijri, foi também eliminado.
Ngozi Okonjo-Iweala, 66 anos, foi a primeira mulher no seu país a chefiar os ministérios das Finanças e dos Negócios Estrangeiros. Economista de formação, pela Universidade de Harvard e com um doutoramento em Economia Regional e Desenvolvimento pelo Massachusetts Institute of Technology, para além de doutoramentos honorários por Yale, Brown e Universidade da Pensilvânia, a economista nigeriana foi também diretora de Operações no Banco Mundial.
Okonjo-Iweala preside desde janeiro de 2016 à Aliança Global de Vacinas e Imunização (Gavi), cargo em que será substituída pelo antigo primeiro-ministro português e antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e liderou um dos programas da Organização Mundial de Saúde para combater a covid-19.
Aos 53 anos, Yoo Myung-hee foi a primeira mulher no seu país a chefiar o Ministério do Comércio. Em 1995, tomou a seu cargo o dossiê da OMC no Ministério do Comércio e depois conduziu as negociações de acordos de comércio livre, particularmente aquele que ligou a China à Coreia do Sul.
Uma destas duas mulheres será designada no final de uma última ronda de negociações, que deverá ser concluída em 06 de novembro próximo, para suceder ao brasileiro Roberto Azevedo, que deixou por razões familiares a OMC no final de agosto, um ano antes do prazo previsto, no meio de uma recessão económica global e deixando a instituição em crise.
A futura líder da instituição terá como contexto para o seu mandato uma crise económica global, assim como uma crise de confiança no multilateralismo e no próprio mérito da liberalização do comércio mundial, tudo isto num cenário de guerra comercial entre as duas principais potências económicas mundiais, a China e os Estados Unidos.
Washington, alegando que tem sido tratada de forma "injusta" pelo 'polícia' do comércio mundial, ameaçou abandonar a organização, da qual exige uma refundação, e desde dezembro tem paralisado o tribunal de recurso do seu órgão de resolução de litígios.
A situação pode mudar em função dos resultados das eleições presidenciais de 03 de novembro, caso Donald Trump seja derrotado pelo seu opositor democrata, Joe Biden, antigo vice-presidente de Barack Obama durante oito anos.
Na passada terça-feira, a OMC publicou novas previsões, que mostram que o comércio mundial, uma das principais vítimas económicas da pandemia de covid-19, está menos doente do que inicialmente previsto, mas apontam também para uma recuperação mais fraca do que a organização previa em abril.
A OMC estima agora que o comércio internacional cairá "apenas" 9,2% este ano, uma revisão em baixa face à estimativa de abril, quando esperava uma queda de 12,9%.
Para 2021, a OMC prevê uma recuperação de 7,2%, número que compara com 21,3% que estimava em abril, e adverte para a pressão no sentido da baixa resultante do ressurgimento do vírus em algumas regiões do planeta, circunstância que pode forçar mais medidas de contenção.
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