Numa declaração conjunta, os presidentes do Cazaquistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão manifestaram "grande preocupação" pelos acontecimentos que ocorrem no Quirguistão após as eleições legislativas de domingo passado.
No comunicado, recordam que a prosperidade do Cazaquistão "é um fator importante para a segurança regional e o desenvolvimento de toda a Ásia Central".
"Sendo nós vizinhos próximos, unidos por laços centenários de amizade, boa vizinhança, valores culturais e espirituais comuns, fazemos um apelo ao povo do Quirguistão nestes dias difíceis para que demonstre a sua sabedoria inerente a fim de preservar a paz e restaurar a estabilidade no país", assinalam.
"Manifestamos a esperança de que todos os partidos políticos e círculos públicos do Quirguistão façam os esforços necessários para assegurar a paz, a tranquilidade e para resolver os problemas que surgiram tendo em consideração a observância indispensável da Constituição e a legislação nacional", acrescentam os líderes.
Esta semana, violentas manifestações pós-eleitorais abalaram o país, num movimento de contestação para denunciar fraudes no escrutínio de domingo, do qual saíram vencedores dois partidos próximos do chefe de Estado.
Os manifestantes irromperam na sede do Governo, do parlamento, da câmara municipal de Bishkek e do Comité de segurança do Estado, onde libertaram o ex-Presidente Aslambek Atambayev e outros ex-altos responsáveis, que se encontravam detidos por vários delitos.
Entre os 16 partidos que participaram nas eleições legislativas de domingo, 11 formações apelaram aos protestos para exigir a anulação dos resultados, que consideraram fraudulentos, após não terem garantido a barreira obrigatória dos 7% para obter representação parlamentar.
A Comissão eleitoral central anulou na terça-feira os resultados das legislativas, uma decisão adotada por unanimidade para "impedir o aumento da tensão no país", mas a tensão não diminuiu.
Os confrontos na capital do Quirguistão, Bishkek, já causaram pelo menos um morto e centenas de feridos.
Na terça-feira, o parlamento designou Sadyr Zhaparov como novo primeiro-ministro, mas a decisão foi de imediato contestada por outros grupos de manifestantes, agravando a situação de caos.
Diversos dirigentes políticos pretendem agora que o parlamento inicie um processo de destituição do Presidente Sooronbai Jeenbekov, ou a sua renúncia voluntária.
Jeenbekov mostrou-se hoje disposto a renunciar ao seu cargo após a formação de um novo Governo e a aprovação de um novo primeiro-ministro, e assinou um decreto para a destituição do Executivo.
Em paralelo, decretou o estado de emergência e o envio do exército para a capital, na sequência dos protestos dos últimos dias.
O ex-chefe de Estado dirigiu-se hoje aos manifestantes que ocupavam o centro de Bishkek e exortou ao fim da violência.
"Sou contra o uso da força, tudo deveria ser feito através de meios pacíficos", disse.
Esta antiga república soviética, a mais pluralista, mas também a mais instável da Ásia Central, já foi palco de duas revoluções e viu três Presidentes detidos ou exilados desde a independência da antiga União Soviética.
A Rússia, um dos principais aliados de Bishkek, já manifestou a sua preocupação pelos tumultos e apelou a uma solução no quadro constitucional.