"Oportunismo é a estratégia do partido da oposição. Ele apoiou a regra dos seis [limite de ajuntamentos a seis pessoas] e depois recusou votar. [Na segunda-feira] às três da tarde o ministro sombra da Saúde disse que um novo confinamento local seria 'desastroso', mas às cinco da tarde estava a pedir um", acusou.
Numa conferência de imprensa na terça-feira à tarde, Keir Starmer desafiou o Governo a seguir as recomendações de um grupo de assessores científicos e decretar um confinamento nacional de duas a três semanas para tentar travar o crescimento exponencial da cadeia de transmissão do vírus.
Durante a tarde, o ministro sombra da Saúde do Partido Trabalhista, Jonathan Ashworth, disse no parlamento que um novo confinamento igual ao que esteve em vigor entre fim de março e início de maio "seria desastroso para a sociedade".
"A questão é quais medidas podem ser tomadas agora para trazer o R [índice de transmissibilidade efetivo (Rt)] abaixo de 1 sem recorrer a esse confinamento total", vincou Asworth.
Atualmente o índice Rt no Reino Unido é de entre 1,2 e 1,5%.
Boris Johnson defendeu o sistema de três níveis de restrições em vigor desde hoje em Inglaterra como uma "abordagem regional de senso comum" que pretende "tentar evitar a miséria de um novo confinamento nacional" e manter as escolas abertas e a economia a funcionar.
Mas o líder do Partido Trabalhista acusou o primeiro-ministro de estar "atrás da curva outra vez" e de rejeitar as recomendações do Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências [SAGE], que sugeriram em 21 de setembro um confinamento curto no final de outubro.
"Eu sei que para alguém que foi um oportunista a vida toda isto é difícil de perceber. Mas após ter lido e analisado as recomendações do SAGE, concluí genuinamente que um confinamento temporário [circuit breaker] é do interesse nacional", afirmou Starmer.
Uma nova escala de três níveis de risco de acordo com o valor de infeções de covid-19 entrou hoje em vigor em Inglaterra, tendo a área de Liverpool, no noroeste, a única colocada no grau mais elevado.
A maior parte da Inglaterra encontra-se no nível mais baixo desta escala, o que implica a proibição de ajuntamentos com mais de seis pessoas e o encerramento de bares e restaurantes às 22:00, enquanto o segundo nível impede a socialização entre pessoas que não façam parte do mesmo agregado familiar.
O nível de alerta mais alto também obriga ao encerramento de 'pubs' e bares que não sirvam refeições e recomenda às pessoas não entrarem ou saírem dessas áreas com maiores restrições, embora as escolas e universidades continuem abertas.
As autoridades de saúde de Inglaterra devem reunir-se hoje para decidir se outras áreas do norte da Inglaterra, como Manchester ou Lancashire, devem entrar no terceiro nível de restrições.
Os maiores surtos de infeções estão a ser registados no norte e centro do país, enquanto que outras regiões do Reino Unido, nomeadamente Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, têm diferentes tipos de regras e restrições em vigor.
A Irlanda do Norte anunciou hoje um confinamento temporário, incluindo o encerramento de escolas durante duas semanas a partir de segunda-feira, enquanto que, a partir já de sexta-feira, bares e restaurantes só poderão servir para fora.
Na Escócia, os bares e restaurantes das áreas de Glasgow e Edimburgo estão fechados até 25 de outubro, e o chefe do governo autónomo do País de Gales, Mark Drakeford, disse hoje estar a ponderar "muito seriamente" um confinamento temporário.
O Reino Unido é o país europeu e o quinto a nível mundial, atrás dos EUA, Brasil, Índia e México, com o maior número de mortes de covid-19, tendo contabilizado 43.018 confirmadas por teste e 57.690 quando incluídos os casos suspeitos cujas certidões de óbito fazem referência ao novo coronavírus.
Na terça-feira registou 143 mortes, o valor diário mais alto desde junho, e 17.234 novas infeções, confirmando a tendência de aumento exponencial sugerida por estudos científicos.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão e oitenta e sete mil mortos e mais de 38,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 2.110 pessoas dos 89.121 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.