"A resposta à pandemia está a criar novas oportunidades para explorar a supervisão fraca e a falta de transparência, desviando fundos destinados a quem mais necessita", disse António Guterres num comunicado, sublinhando que face à situação urgente os governos "podem agir precipitadamente sem verificar os fornecedores ou determinar preços justos".
O dirigente das Nações Unidas acusou ainda "comerciantes sem escrúpulos" capazes de venderem produtos e testes defeituosos e medicamentos falsificados.
Segundo Guterres, tal combinação causou aumentos escandalosos nos preços de bens necessários e impediu que muitas pessoas tivessem acesso a tratamentos que lhes poderiam ter salvo a vida.
Instou assim ao trabalho conjunto para acabar com as práticas ilegais e "medidas drásticas contra os fluxos financeiros ilícitos e os paraísos fiscais".
"Juntos temos de criar, sem demora, sistemas mais sólidos para a prestação de contas, a transparência e a integridade. Temos de responsabilizar todos os líderes", disse Guterres.
No mesmo sentido, encorajou as pessoas que conhecem casos em governos e empresas a denunciarem-nos anonimamente.
"Devemos proteger os direitos das pessoas que denunciam transgressões e reconhecer a sua coragem", adiantou.
Guterres recordou que a corrupção "tem sido durante muitos anos fonte de desconfiança e indignação" contra muitos governos, adiantando que "em tempos de covid-19 tem o potencial de minar gravemente a boa governação em todo o mundo e de desviar ainda mais do caminho para se alcançarem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável".
A pandemia de covid-19, transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro na China, já provocou mais de um milhão e noventa e três mil mortos e mais de 38,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço da agência France-Presse.
As medidas para combater a covid-19 paralisaram setores inteiros da economia mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a pandemia reverterá os progressos feitos desde os anos de 1990, em termos de pobreza, e aumentará a desigualdade.
O FMI prevê uma queda da economia mundial de 4,4% em 2020, com uma contração de 4,3% nos Estados Unidos e de 5,3% no Japão, enquanto a China deverá crescer 1,9%.