A repentina mudança, em plena quarentena, não inclui os turistas europeus e está associada com a urgência argentina por divisas, numa economia muito enfraquecida. Os brasileiros são também os que mais gastam, segundo dados oficiais.
"É uma reabertura para turistas estrangeiros de países limítrofes. Estará no decreto que será assinado neste domingo pelo Presidente Alberto Fernández. A partir de segunda ou terça-feira, através de uma decisão administrativa, estarão as especificações sobre os requisitos e tempo de permanência", antecipou o ministro do Turismo, durante uma conferência.
O decreto que reabre a fronteira aérea, fechada desde 16 de março, terá limitações: os turistas só poderão chegar ao aeroporto internacional de Ezeiza, em Buenos Aires. Os que vierem pelo Uruguai poderão desembarcar também no porto de Buenos Aires, através das embarcações que unem os dois países, disse.
A medida deve estar em prática a partir de 1 de novembro, depois de, durante esta semana, o Governo definir os requisitos para o regresso dos turistas. Para evitarem uma quarentena de 14 dias, deverão fazer um teste de PCR no ponto de origem e provavelmente na chegada.
"Posso adiantar que se exigirá um teste de PCR negativo na origem e estamos a acertar que outro tipo de prevenção vamos exigir quando chegarem aqui para poderem ficar na cidade sem a necessidade de quarentena. Calculo que, a partir de 1 de novembro, os voos já estarão disponíveis", estimou o ministro.
As fronteiras terrestres continuarão fechadas. Autocarros e carros de passeio continuarão proibidos de entrar no país.
Matías Lammens indicou que a admissão de turistas dos países vizinhos funcionará como "uma prova piloto para, futuramente, permitir também a chegada de turistas europeus".
Por enquanto, os turistas estarão limitados à capital argentina sem poderem visitar outros destinos dentro do país. Os voos domésticos estão limitados a trabalhadores de atividades essenciais. Nem mesmo os argentinos podem fazer turismo interno.
Além disso, cada província argentina tem requisitos próprios para a entrada de residentes pela via aérea e algumas não permitem sequer a chegada de voos domésticos. Os próprios argentinos estão proibidos de atravessar os limites terrestres das províncias.
A cidade de Buenos Aires tem flexibilizado as restrições devido uma constante queda da curva de contágios. No resto do país, a situação vai no sentido contrário. O vírus avança pelo interior, onde as restrições aumentam.
Mesmo em Buenos Aires, um dos pontos a serem definidos será se os turistas poderão usar o transporte público, atualmente reservado para trabalhadores essenciais.
O ministro disse esperar que o volume maior de turistas seja de brasileiros, responsáveis por metade dos turistas estrangeiros na Argentina.
A Argentina vive uma crise cambial devido à escassez de dólares no Banco Central, cujas reservas líquidas estão a ponto de acabar.
Proibidos de comprarem dólares de forma oficial, os argentinos têm recorrido ao mercado paralelo, fazendo disparar diariamente a cotação da moeda norte-americana. A procura desenfreada pelo dólar como reserva de valor está associada a uma perda constante do valor do peso argentino que só no último ano, desde que Alberto Fernández foi eleito, perdeu 350% do seu valor no mercado paralelo.
Enquanto o dólar oficial vale 83,85 pesos, o dólar paralelo, o único ao qual se pode ter acesso, tocou 195 pesos na sexta-feira, uma diferença de 132%.
O Governo argentino entende que a Argentina está barata para os estrangeiros e que a entrada de moeda estrangeira no país vai ajudar a baixar a corrida ao mercado paralelo.
"Entendemos que a situação cambial do país é muito atraente para os turistas estrangeiros. Não podemos negar que precisamos da entrada de divisas e para isso o turismo vai ajudar muito, além de ser um dos grandes motores para a reativação da economia", admitiu Matías Lammens.
A Argentina recebeu 7,3 milhões de turistas em 2019 que deixaram seis mil milhões de dólares (cinco mil milhões de euros) na economia do país.
Argentina tem mais de um milhão e sessenta e nove mil infetados com o novo coronavírus e 28.338 mortos.