Em declarações à Lusa, Adalberto da Costa Júnior salientou que o decreto com novas medidas face à situação de calamidade pública, entre as quais proibição de ajuntamentos com mais de cinco pessoas, foi publicado no Diário da República "em tempo recorde".
"Foram anunciadas medidas às 19:00 para entrarem em vigor cinco horas mais tarde", disse o dirigente político, afirmando que as medidas foram usadas para impedir a manifestação convocada para o dia seguinte.
"O covid é um perigo e uma ameaça enorme, mas não deve ser um fator de instrumentalização, as manifestações fazem-se em todo o mundo e as eleições também", afirmou, acusando o governo de usar "infelizmente, cobardemente o covid para esconder as suas debilidades".
Adalberto da Costa Júnior, que exigiu a libertação imediata dos "presos de consciência", aludindo aos cerca de cem manifestantes que se encontram detidos, salientou que o governo é "incapaz de respeitar a lei, mas mostra-se capaz de fazer leis de conveniência".
O presidente da UNITA disse também que o comando provincial de Luanda da Polícia Nacional chamou na sexta-feira os organizadores da manifestação, com quem conversou e acertou o itinerário a seguir na manifestação de sábado.
"Qual não é a surpresa quando, no sábado, um fortíssimo aparato repressivo foi colocado em todos os municípios para impedir que participassem na manifestação", lamentou.
Em declarações hoje à TPA, o Secretário de Estado do Ministério do Interior, Salvador Rodrigues, disse que, na sexta-feira, a polícia recebeu garantias dos promotores da manifestação de que a mesma não iria realizar-se.
O responsável da UNITA criticou também a "violência gratuita" durante o protesto e afirmou que a polícia disparou balas reais.
"Há imensas imagens de espancamentos, agressões e prisões arbitrarias, incluindo de jornalistas, e apreensão de passes, tudo sobre a capa de evitar a transmissão da pandemia", frisou, destacando que estão detidos, entre outros, o secretário-geral da JURA (braço juvenil da UNITA), Agostinho Kamuango, a ativista cívica Laura Macedo, a jurista Priscila Martelo e o presidente do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira.
Atribui, por isso, a responsabilidade "dos atos de violência, dos distúrbios e mesmo da morte" à polícia e "seus mandantes".
A existência de um morto, denunciada pelo ativista Dito Dali, foi desmentida por Salvador Rodrigues.