"Mentiras e desinformação, conspiração e ódio não afetam só o debate democrático, mas também a luta contra o vírus", disse a chanceler, no seu discurso no parlamento, um dia depois de ser anunciado o encerramento de restaurantes e locais de lazer a partir de segunda-feira para conter a segunda onda de infeções.
Os deputados do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), a terceira maior força política no Bundestag (câmara baixa do parlamento), manifestaram-se contra as novas medidas anunciadas na quarta-feira, gritando durante o discurso de Angela Merkel.
A situação obrigou o presidente do Bundestag, Wolfgang Schäuble, a interromper a intervenção da chanceler para restaurar a ordem, ameaçando os deputados com sanções.
"O que é cientificamente falso deve ser claramente designado como tal", insistiu a chanceler, cientista de formação, quando retomou o seu discurso.
"O populismo não é apenas irrealista, é também irresponsável", acrescentou, garantindo que as medidas tomadas foram "adequadas, necessárias e proporcionais".
Desde o verão, foram realizadas, na Alemanha, várias manifestações "anti-máscaras" e contra medidas sanitárias drásticas para conter a epidemia.
Em Berlim, os protestos chegaram mesmo a colocar em causa a segurança do Bundestag, quando alguns ativistas forçaram as barreiras de segurança para tentar entrar no parlamento, o que chocou o país.
No domingo, uma manifestação teve de ser dispersada pela polícia, enquanto o presidente da AfD, Alexander Gauland, denunciava aquilo que considera ser "propaganda de guerra" do Governo alemão sobre a pandemia.
No seu discurso, Merkel sublinhou ainda que considera essencial evitar o encerramento das fronteiras na Europa e manter a livre circulação de mercadorias e pessoas.
Devemos "manter ao mínimo a pressão sobre o mercado interno e o sistema Schengen", o espaço sem fronteiras dentro da União Europeia, defendeu.
A cooperação entre os parceiros europeus, acrescentou, deve incluir o fornecimento de vacinas e negociações para chegar a acordo sobre "um regime de teste comum e de quarentenas" para viagens transfronteiriças dentro da União Europeia.
A cooperação ao nível da comunidade é essencial e não apenas para ultrapassar o covid-19, referiu a chanceler.
"Sabemos que a nossa ação a nível europeu relativamente à pandemia decidirá não só a saúde dos nossos cidadãos e das nossas economias, mas também terá uma influência significativa na forma como a capacidade de resposta da Europa e a legitimidade da sociedade europeia serão julgadas em todo o mundo", argumentou.
Considerada o "bom aluno" da Europa durante a primeira onda de coronavírus, na primavera, a Alemanha registou um aumento muito grande de infeções nas últimas semanas.
Embora os números continuem muito abaixo dos registados em França ou em Espanha, alcançaram hoje o recorde de 16.774 novos casos de covid-19 em 24 horas, com mais 89 mortes, anunciou o Instituto Robert Koch, acrescentando que o número de casos ativos aumentou para 131.500.
Segundo a entidade responsável na Alemanha pelo controlo e prevenção de doenças, o número total de infetados com o novo coronavírus desde o anúncio do primeiro contágio no país, no final de janeiro, é de 481.013, incluindo 10.272 mortos.
Angela Merkel anunciou na quarta-feira o encerramento parcial, durante quatro semanas, de restaurantes, bares e teatros devido ao elevado aumento de casos, medida acordada entre o Governo e os poderes regionais.
Ao longo de novembro, será também proibida a oferta cultural, mantendo-se abertas as escolas e o comércio, "enquanto for possível".
Merkel sublinhou que deverão ser limitados ao mínimo os contactos sociais e as reuniões entre pessoas que não convivem, adiantando que as restrições entrarão todas em vigor a 02 de novembro com o objetivo de "evitar uma emergência sanitária nacional" face ao avanço da pandemia do novo coronavírus.
Por outro lado, prosseguiu, todas as competições desportivas profissionais decorrerão sem púbico a partir de segunda-feira.
O Governo alemão também anunciou hoje um novo programa de ajuda de emergência, que poderá atingir os 10.000 milhões de euros, para apoiar os setores económicos afetados pelo endurecimento das restrições na luta contra a pandemia.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 44 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.