O muçulmano Elyazid Benferhat ficou bastante afetado quando soube de um ataque terrorista contra a igreja em Nice, que provocou três mortos, a 29 de outubro.
Benferhat e um amigo reuniram um grupo de jovens muçulmanos para ficar de guarda do lado de fora da catedral de sua cidade no feriado de Todos os Santos, para protegê-la simbolicamente e mostrar solidariedade aos fiéis católicos.
Os paroquianos da igreja do século XIII na cidade de Lodeve, no departamento de Hérault, no sul de França, ficaram comovidos. O pároco disse que o gesto lhe deu esperança num momento de turbulência.
Benferhat, com um sotaque característico do sul da França, identificou-se como "mais francês do que qualquer coisa". A sua mãe nasceu na Argélia, mas o jovem nasceu em França e cresceu a falar apenas francês.
"Mas eu também sou muçulmano (...) e vimos a islamofobia neste país e o terrorismo", disse Elyazid Benferhat à agência de notícias Associated Press (AP).
"Nos últimos anos, fiquei com um buraco no estômago por cada vez que a violência extremista islâmica atingiu a França", disse, referindo que os muçulmanos franceses enfrentam uma nova estigmatização, embora não tenham "nada a ver com isso".
Benferhat descreveu a decapitação do professor Samuel Paty nos arredores de Paris por um 'jihadista, a 16 de outubro, como um ato de "crueldade inacreditável e sem precedentes".
Então, quando três pessoas foram mortas na última quinta-feira na Basílica de Nossa Senhora da Assunção, em Nice, Benferhat disse que ficou tão enojado que queria fazer algo "para que todos acordassem".
Benferhat, que trabalha para a petrolífera francesa Total e é técnico de um clube de futebol local, conversou com um amigo muçulmano que estava em Nice naquele dia e tiveram a ideia.
"Precisávamos fazer algo além de homenagear as vítimas. Dissemos, nós mesmos protegeremos as igrejas", declarou o jovem.
Ambos recrutaram voluntários entre os seus amigos e no seu clube de futebol e protegeram a igreja naquela noite e novamente durante a missa dominical.
Benferhat disse que também se coordenou com a polícia local, após o Governo da França prometer aumentar a segurança em locais religiosos sensíveis.
"É muito bom, esses jovens que são contra a violência", disse o padre da catedral, o reverendo Luis Iniguez, à AP.
Quando um jornal local publicou uma foto de paroquianos posando com os seus guardas muçulmanos, Iniguez pendurou-a dentro da catedral gótica, que serve como âncora para a vida na cidade.
"As pessoas ficaram felizes em ver isso", disse o padre, especialmente perante preocupações recentes com as tensões entre a França e o mundo muçulmano, além dos temores contínuos do novo coronavírus.
O gesto numa cidade pequena atraiu a atenção nacional e, com isso, recebeu também ofensas online de algumas vozes de extrema-direita.
Mas Benferhat disse que a resposta foi "90% positiva".
O seu grupo está a considerar como levar a ideia adiante e gostaria de fazê-lo novamente no Natal e para que outras cidades sigam o exemplo de Lodeve.
Mas, por enquanto, todos os serviços religiosos na França estão proibidos pelo menos até 01 de dezembro para tentar retardar o rápido aumento das infeções do novo coronavírus.
O que quer que faça a seguir, "virá do coração", declarou Benferhat.