Cairo, 02 dez 2020 (Lusa) -- A enviada especial da ONU para a Líbia alertou hoje para a presença de 20.000 combatentes estrangeiros e mercenários em território líbio, situação que pode desencadear uma "crise séria" à medida que continua a chegar armamento ao país.
"Esta é uma violação chocante à soberania da Líbia [...] e uma flagrante violação ao embargo de armas", afirmou Stephanie Williams numa conferência 'online' no Fórum de Diálogo Político Líbio, que engloba 75 membros, para pôr um fim às dúvidas que persistem quanto a aplicação do estipulado no acordo de cessar-fogo no conflito.
A ideia do fórum é tentar envolver os dois beligerantes da guerra líbia num compromisso para estabelecer uma administração de transição para liderar o país até às eleições presidenciais e legislativas em dezembro de 2021.
A reunião é mais uma parte dos esforços das nações Unidas para pôr fim ao caos que assola a Líbia depois da queda do regime do antigo líder líbio, Muammar Kadhafi, em 2011.
O país está atualmente dividido entre duas administrações rivais, uma em Tripoli, apoiada pelas Nações Unidas, e outra no leste líbio, liderada pelo comandante militar Khalifa Haftar.
Segundo reporta a agência noticiosa Associated Press (AP), os comentários de Williams refletem o "desespero" quanto à falta de progressos no que diz respeito à partida dos combatentes estrangeiros e mercenários, tal como definido no acordo de cessar-fogo assinado em outubro pelas duas partes.
O acordo prevê um período de três meses para que os miliares estrangeiros abandonem a Líbia.
Segundo as Nações Unidas, milhares deles -- incluindo russos, sírios, sudaneses e chadianos -- foram trazidos para a Líbia pelos dois beligerantes.
Williams também criticou um número não especificado de Governos estrangeiros por "atuarem com toda a impunidade", o que tem aprofundado ainda mais o conflito ao trazerem para solo líbio mercenários e armamento.
A tensão na Líbia subiu de tom em 2019 com a ofensiva militar de Haftar sobre Tripoli, que redundou em fracasso em junho deste ano, quando as milícias apoiadas pela ONU e pela Turquia se juntaram às forças militares de Tripoli, levando as tropas do marechal rebelde a recuar para o leste.
Haftar tem contado com o apoio dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Rússia, Jordânia e Egito, enquanto as forças de Tripoli são apoiadas pelo Qatar e Turquia.
Williams também alertou para um iminente "colapso da rede elétrica" na Líbia por causa da corrupção e má gestão, acrescentando ser "necessário imediatamente" um investimento de um investimento de 1.000 milhões de dólares (cerca de 835 milhões de euros) para infraestruturas.
A enviada especial da ONU para a Líbia alertou ainda que apenas 13 das 27 unidades de produção de energia elétrica na Líbia estão a funcionar e que 1,3 milhões dos cerca de 6,8 milhões de habitantes do país irão precisar de assistência humanitária em janeiro de 2021.