"O ano de 2020 causou estragos, não apenas em todas as regiões e países, mas também em todos os nossos direitos, quer os económicos, os sociais, os culturais, os civis e os políticos", disse Bachelet em Genebra.
A pandemia de covid-19 "mostrou a fraqueza dos sistemas, que não conseguiram dar prioridade ao respeito pelos direitos humanos", acrescentou.
"A covid-19 expôs a nossa incapacidade de fazer cumprir, da melhor forma, esses direitos, não apenas porque não podíamos, mas também porque os negligenciámos - ou escolhemos não os cumprir", sublinhou Michele Bachelet, no discurso de abertura da conferência anual sobre perspetivas dos direitos humanos no mundo.
As críticas da alta comissária visaram tanto a incapacidade dos países de investir nos seus sistemas de saúde como a reação tardia à pandemia e a recusa em levar a doença a sério ou mesmo a falta de transparência sobre a sua disseminação.
"Politizar uma pandemia desta forma é mais do que irresponsável, é totalmente condenável", considerou Bachelet.
"Nos últimos 11 meses, os pobres ficaram mais pobres e aqueles que sofriam de discriminação sistémica foram os que mais sofreram", disse.
"Os direitos à liberdade de expressão, reunião e participação na vida pública foram prejudicados durante a pandemia", sublinhou ainda, denunciando o facto de algumas restrições ligadas ao coronavírus não terem sido decididas "para limitar a propagação da covid-19, mas porque alguns governos quiseram aproveitar a situação para acabar com a dissidência e as críticas políticas".
Para Michele Bachellet, é preciso "aproveitar a provação" para reconstruir um mundo melhor.
"Se não o fizermos, principalmente no que diz respeito às mudanças climáticas, 2020 será apenas a primeira fase antes do início de uma nova calamidade. Já tivemos o nosso aviso", concluiu.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.545.320 mortos resultantes de mais de 67 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.